Pela primeira vez, um grupo de 76 feridos deixou a Faixa de Gaza, a bordo de ambulâncias, por meio da passagem de Rafah, na fronteira sul com o Egito, assim como 345 pessoas com passaportes estrangeiros. As informações de que uma nova retirada ocorreria, nesta quinta-feira (2/11), foram colocadas em xeque depois que as Forças de Defesa de Israel (IDF) bombardearam, pelo segundo dia consecutivo, o campo de refugiados de Jabalia, deixando 80 mortos. Na terça-feira (31/10), um ataque aéreo no mesmo local havia matado 47 pessoas, incluindo sete reféns, três deles estrangeiros, segundo o grupo fundamentalista islâmico Hamas. Também nesta quarta-feira (1º), 61 caminhões carregados de ajuda humanitária chegaram a Gaza pela cidade de Rafah.
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De acordo com a agência de notícias France Presse, depois da entrada de ambulâncias no Egito, um grupo de pessoas com passaportes estrangeiros, em sua maioria mulheres e crianças, deixou o território palestino. Pais empurraram carrinhos de bebê, enquanto idosos atravessaram a fronteira dentro de ônibus.
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos advertiu que os bombardeios israelenses "desproporcionais" em Jabalia poderiam "constituir crimes de guerra". Enquanto a situação humanitária em Gaza beira a catástrofe, Philippe Lazzarini — chefe da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) — prometeu que sua equipe "ficará junto" da população de Gaza".
A preocupação era com a situação dos hospitais, sob o risco de se transformarem em "túmulos coletivos". "Dentro de um dia, haverá um colapso total em nosso estabelecimento", afirmou ao Correio o médico Muhammad Abu Salmiya, diretor geral do Hospital Al Shifa, ao citar a falta de combustível para alimentar os geradores.
O jornal The Jerusalem Post informou que a invasão à Faixa de Gaza, combinada com estágios posteriores de insurgência e de combates de menor intensidade, levará vários meses. Por sua vez, o Yediot Ahronoth publicou que soldados da Brigada de Infantaria Givati encontraram cerca de 100 mulheres e crianças colocadas pelo Hamas, perto do campo de refugiados de Jabalia, para servirem de barreira humana, enquanto as IDF tentavam conquistar uma base do grupo extremista.
Ao todo, 16 militares das IDF foram mortos em combates no enclave palestino desde o início da guerra, em 7 de outubro, quando 3 mil extremistas do Hamas assassinaram 1,4 mil pessoas e sequestraram 240, no sul de Israel. O Exército judeu anunciou que alvejou 11 mil posições do grupo.
Membro do Gabinete Político do Hamas, Ghazi Hamad afirmou ao Correio que o grupo está pronto para cooperar com os mediadores e resolver o problema dos reféns. "Israel não se importa com os reféns. Dissemos aos mediadores que temos reféns em Gaza e que essas pessoas podem morrer nos bombardeios. Mas os ataques aéreos ocorrem em todos os lugares. Alguns dos reféns foram mortos, e Israel tem total responsabilidade por essa ação."
Imagens dos atentados
Na tarde desta quarta-feira (1º), a Embaixada de Israel exibiu para um grupo de jornalistas um vídeo de 43 minutos com imagens feitas por câmeras corporais dos extremistas e pelos celulares das vítimas, durante os atentados de 7 de outubro. As filmagens começam com os integrantes do Hamas disparando contra carros em rodovias.
Em uma casa do kibbutz de Netiv Ha'asara, um pai agarra os filhos e corre com eles até o "quarto seguro", do outro lado do pátio. Os extremistas lançam uma granada perto da porta e o homem cai, morto. "Mataram o papai, eu quero a mamãe. Acho que vamos morrer", grita um dos irmãos, de cerca de 12 anos.
Em outras gravações, eles usam uma enxada para golpear a cabeça de um homem agonizando no chão, celebram o ataque com buzinaços e queimam carros. Uma mulher se esconde sob a mesa, em um quarto. "Atire na cabeça", repete o extremista.
Daniel Zonshine, embaixador de Israel em Brasília, disse que a meta do Hamas foi "matar pessoas da maneira mais horrível possível". "Não nos deixaram outra opção, se não a de reagir. Não conseguimos proteger os cidadãos que vivem perto de Gaza", admitiu. "Nossa guerra é contra o Hamas, não contra o povo palestino", assegurou.
O embaixador não crê na intenção do Hamas de libertar os 240 reféns. Ao ser questionado pela reportagem sobre o motivo pela demora na abertura da passagem de Rafah para os palestinos com passaporte estrangeiro e as ambulâncias, Zonshine respondeu que foi necessária uma ampla coordenação entre os governos de Israel e do Egito, a Cruz Vermelha e a ONU.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
GHAZI HAMAD, membro do Gabinete Político do Hamas
Que tipo de legitimidade o Hamas espera ter depois de cometer o massacre de 7 de outubro?
A Enchente de Al-Aqsa foi uma operação militar. Foi dirigida apenas para propósitos militares, para os soldados e os locais militares. Nunca foi direcionada aos civis. Não tínhamos a intenção nem a decisão de alvejar ou ferir qualquer civil. Talvez, durante o momento dos confrontos, tenha ocorrido alguma complicação no terreno. O chefe das Brigadas Izz ad-Din al-Qassam (braço armado do Hamas) deu o comando a todos os combatentes para que evitassem mulheres, crianças, idosos e doentes. Foi um confronto militar. É uma grande mentira que o Hamas tenha pretendido matar civis. Israel não tem provas de que o Hamas matou bebês, crianças ou mulheres.
E como se explica o que ocorreu?
O que ocorreu em 7 de outubro é parte de uma longa série de confrontos com a ocupação. Nós começamos a lutar e a resistir contra a ocupação em 1948. Em 1987, houve a primeira intifada (levante palestino); 13 anos depois, a segunda intifada. Tivemos guerras em 2009, 2014 e 2021. Não pararemos de lutar contra a ocupação, pois queremos pôr fim a ela e a esse pesadelo. Queremos dar ao povo palestino a chance de estabelecer um Estado, de ter dignidade e independência.
O que o Hamas pretendia com os ataques de 7 de outubro?
A meta é deter os ataques israelenses, especialmente na Cisjordânia, onde 300 palestinos foram mortos neste ano; os assassinatos nos postos de controle; os confiscos de terras; a construção de assentamentos; a invasão à Mesquita de Al-Aqsa. Solicitamos ao Egito, ao Catar e à ONU que peçam a Israel que pare com as ações brutais. Eles não escutam ninguém. Queremos parar com a arrogância e as violações das forças de ocupação contra o nosso povo. Outro ponto é trocar os prisioneiros palestinos, alguns deles detidos há 30 ou 40 anos. (RC)