GUERRA ISRAEL-HAMAS

Guerra em Gaza tem impacto devastador a pessoas com deficiência, diz ONG

Segundo a Human Rights Watch, os riscos que os civis enfrentam devido aos bombardeios israelenses são multiplicados para as pessoas com deficiência

Uma mulher palestina é levantada em sua cadeira de rodas após um ataque aéreo israelense contra Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 3 de novembro de 2023       -  (crédito: MAHMUD HAMS / AFP)
Uma mulher palestina é levantada em sua cadeira de rodas após um ataque aéreo israelense contra Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, em 3 de novembro de 2023 - (crédito: MAHMUD HAMS / AFP)
postado em 03/11/2023 12:45

Human Rights Watch, entidade internacional de direitos humanos, alertou, na quarta-feira (1º/11), que os bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza têm impactos "devastadores" a pessoas com deficiência (PCDs), pois elas enfrentam mais dificuldade em fugir dos ataques e ter acesso a ajuda humanitária. "Os graves riscos que todos os civis em Gaza enfrentam devido às operações militares israelenses são multiplicados para as pessoas com deficiência", destacou a ONG, em comunicado. 

Segundo a entidade, as ordens para evacuação da região desconsideram a realidade das PCDs, pois as expõem aos perigos da guerra e não garante que vão receber alojamento e condições adequadas. “A grande ofensiva terrestre dos militares israelenses em Gaza aumenta imensamente as sérias dificuldades para as pessoas com deficiência fugirem, encontrarem abrigo e obterem água, alimentos, remédios e dispositivos de assistência de que necessitam desesperadamente”, explica Emina Erimovi, pesquisadora sênior de direitos das pessoas com deficiência na Vigilância dos Direitos Humanos.

De 18 a 29 de outubro, a Human Rights Watch entrevistou 13 pessoas com deficiência que estão em Gaza. As que conseguiram fugir dos bombardeios descreveram o pânico de terem que abandonar as suas casas — que foram construídas para atender aos requisitos de acessibilidade e adaptabilidade. A Agência de Assistência e Obras das Nações Unidas (UNRWA) estima que cerca de 690 mil pessoas foram obrigadas a se deslocar e estão abrigadas em espaços superlotados.

A entidade também lembra que além de sofrerem com a falta de água potável, alimentos e medicamentos, as pessoas com deficiência não têm dispositivos de assistência em Gaza, como cadeiras de rodas, próteses, muletas e aparelhos auditivos. "Pessoas com deficiência visual, auditiva, de desenvolvimento ou intelectual podem não ouvir, saber ou compreender o que está acontecendo", relata.

Além disso, a falta de eletricidade e corte de serviços de telecomunicações também impactou o acesso a informações básicas e cruciais para essa população, o que poderia ter ajudado a decidir para onde, quando e como fugir com maior segurança. "O corte da eletricidade e da água a Gaza por parte de Israel e o bloqueio da entrada de combustível, alimentos e quase toda a ajuda humanitária, incluindo medicamentos, equivalem a punição coletiva, um crime de guerra", pontua a entidade.

"Se bombardearem o hospital, estarei morto"

Samih Al Masri (nome fictício), um homem de 50 anos, afirmou ter perdido as duas pernas em um ataque de drone de Israel, em 2008. Atualmente, ele está abrigado no hospital al-Quds e conta que não se sente seguro lá. “Se bombardearem o hospital, estarei morto. Eu sei que não posso me mover", desabafa. O homem estava com dois filhos e duas netas quando a casa dele foi atingida, sem nenhum aviso prévio. 

"Meu filho estava em estado de choque, gritando. Minha filha não sabia quem ajudar primeiro, eu ou os filhos. Ela estava gritando com o irmão: 'Ajude seu pai!' Um vizinho ouviu seus gritos e veio me ajudar a sair de casa, o que não foi fácil – havia escombros por toda parte", relatou Samih.

Já Jamal Al Rozzi (nome fictício), pai de um jovem de 27 anos com paralisia cerebral, lembrou das dificuldades que enfrentou ao ajudar o filho a sair de casa, quando o bairro residencial em Rimal, Cidade de Gaza, foi bombardeado. "Normalmente meu filho consegue andar com a ajuda de uma muleta, mas quando o bombardeio começou ele congelou. Ele ficou como uma pedra, colocou os dedos nos ouvidos e começou a gritar. Eu apenas pedi a ele que ficasse de pé para me ajudar a movê-lo, mas ele não conseguiu. Tive que colocá-lo no chão e arrastá-lo para o outro lado do apartamento, para outro canto que pudesse ser mais seguro", disse.

Mortes

Desde 7 de outubro, quando o grupo extremista Hamas atacou Israel de surpresa, mais de 9 mil pessoas morreram em Gaza e 1,4 mil no território israelense. Entidades internacionais têm reivindicado um cessar-fogo imediato para amenizar o impacto à população civil e viabilizar a chegada de ajuda humanitária de forma segura e na quantidade necessária. 

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