Meio ambiente

COP28 pede abandono de combustíveis fósseis pela 1ª vez na história

Anúncio foi aplaudido de pé em Dubai, mas críticos apontam que texto poderia ter sido mais enfático.

Anúncio foi aplaudido de pé em Dubai -  (crédito: EPA)
Anúncio foi aplaudido de pé em Dubai - (crédito: EPA)
BBC
BBC Geral
postado em 13/12/2023 07:40 / atualizado em 13/12/2023 08:26

Pela primeira vez, um texto acordado na cúpula climática da ONU apela a todos os países para que abandonem o uso de combustíveis fósseis — e não que eles sejam eliminados gradualmente, como muitos governos queriam.

O texto reconhece a necessidade de reduções profundas, rápidas e sustentadas se a humanidade quiser limitar o aumento da temperatura global em 1,5ºC.

A sala de conferências da COP irrompeu em aplausos, com abraços e largos sorrisos nos rostos das delegações, quando o acordo foi anunciado.

"Juntos encaramos a realidade e colocamos o mundo na direção certa", disse o presidente da COP28, Sultan Ahmed Al-Jaber.

Em nenhuma conferência anterior as nações concordaram com um afastamento conjunto de petróleo, gás e carvão.

Mas alguns países são críticos — com Samoa, que diz que as nações insulares, ilhas gravemente atingidas pelas alterações climáticas, "não estavam presentes" quando o texto foi aprovado.

A queima de combustíveis fósseis provoca o aquecimento global, colocando em risco milhões de vidas. Até hoje, os governos nunca concordaram coletivamente em parar de usá-los.

Segundo Georgina Rannard, repórter de clima da BBC que acompanha o anúncio em Dubai, há um clima de surpresa pela rapidez com que o acordo foi aprovado pela presidência da COP28.

Em fala após o anúncio do acordo, a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, disse que os países desenvolvidos deveriam assumir a liderança na transição dos combustíveis fósseis.

"O desafio de cumprir esta missão 1,5ºC dependerá do compromisso de todos", disse Marina.

Ela afirmou que o Brasil está satisfeito e honrado em poder ajudar nisso – o Brasil sediará a COP daqui a dois anos, na Amazônia, em Belém.

Análise - Justin Rowlatt, editor de clima

O presidente da COP28 considera este um momento-chave na história. O ponto em que o mundo mudou de rumo e começou realmente a exercer pressão sobre a fonte esmagadora das emissões que aquecem o nosso planeta: carvão, petróleo e gás.

E é realmente um progresso significativo que, pela primeira vez, os combustíveis fósseis e a necessidade de "transição" deles tenham sido incluídos no texto da COP.

Os ativistas dirão que é tarde demais. Mas a união do mundo para reconhecer esse fato terá consequências no mundo real. Você apostaria as economias de sua vida em uma nova usina a carvão depois de hoje?

Mas é verdade que o acordo é fraco em seus fundamentos.

Por que? Porque a linguagem mais forte que os Emirados Árabes Unidos conseguiram fazer com que o mundo concordasse foi "apelar às partes para contribuírem" para uma série de ações para combater as alterações climáticas.

Eu poderia lavar um único prato e teria "contribuído" para lavar a louça — mas você acha que eu realmente teria feito o suficiente?

Essa falta de intensidade foi reconhecida pelo presidente destas conversações no seu discurso esta manhã. "Agora é com vocês", disse ele aos delegados.

O sucesso deste acordo tem tudo a ver com a "implementação", disse ele – quanto da lavagem da louça os países do mundo realmente decidem fazer.

Que diz o acordo?

Para os progressistas, há sinais de que a era dos combustíveis fósseis está chegando ao fim. Para os produtores de petróleo há ambiguidade suficiente para que possam continuar produzindo.

As promessas de triplicar as energias renováveis e a exigência de novos planos de redução de carbono também são significativas para muitos.

Confira alguns pontos-chave do texto:

  • Os países irão "contribuir... para a transição dos combustíveis fósseis nos sistemas energéticos de uma forma justa, ordenada e equitativa".
  • Esta é a primeira vez que há uma referência clara sobre futuro de todos os combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás) num texto da COP. Não inclui qualquer texto sobre a "eliminação progressiva dos combustíveis fósseis".
  • Há um reconhecimento de que as emissões globais provavelmente atingirão o pico antes de 2025 - e que para as nações em desenvolvimento isso poderá ocorrer mais tarde.
  • No que diz respeito à adaptação e ao financiamento, a linguagem parece ter sido enfraquecida, com o texto "reiterando" em vez de "solicitando" aos países desenvolvidos que dêem apoio às nações vulneráveis que enfrentam as alterações climáticas.

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