ORIENTE MÉDIO

Diretor da inteligência militar de Israel deixa o cargo em plena guerra

Primeira autoridade a renunciar ao cargo desde o ataque de 7 de outubro, o general Aharon Haliva assumiu sua "responsabilidade" nas falhas de segurança que permitiram a entrada dos islamistas no sul de Israel.

O diretor do serviço de inteligência militar israelense, general Aharon Haliva, apresentou nesta segunda-feira (22) o pedido de demissão por sua "responsabilidade" no ataque sem precedentes do Hamas que provocou a guerra em Gaza, onde Israel prometeu infligir mais "golpes duros" contra o movimento islamista.

Em plena ofensiva no território palestino, Israel celebra nesta segunda-feira o início da Páscoa judaica, a festa do Pessach, uma das mais importantes do calendário hebraico, marcada pela ausência de 129 reféns que permanecem em cativeiro desde 7 de outubro.

Na véspera da data festiva, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu infligir "mais golpes duros" ao Hamas. "Nos próximos dias, vamos aumentar a pressão militar e política sobre o Hamas, pois é a única maneira de libertar os nossos reféns e alcançar a vitória", declarou em um vídeo.

Primeira autoridade política ou militar de alto escalão a renunciar ao cargo desde o ataque de 7 de outubro executado por milicianos do Hamas, o general Aharon Haliva assumiu sua "responsabilidade" nas falhas de segurança que permitiram a entrada dos islamistas no sul de Israel.

O general Haliva, "em coordenação com o comandante do Estado-Maior, solicitou o fim de suas funções devido a sua responsabilidade como diretor de inteligência nos eventos de 7 de outubro", afirmou o Exército em um comunicado. Ele tem 38 anos de carreira militar.

- "200 dias de cativeiro" -

O ataque de 7 de outubro, o mais violento desde a criação do Estado de Israel em 1948, deixou 1.170 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP baseado em dados divulgados pelas autoridades do país.

Em represália, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, que governa a Faixa de Gaza desde 2007, e iniciou uma ofensiva militar que deixou 34.151 mortos, a maioria mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do território.

Após mais de seis meses de bombardeios e combates no território palestino, que enfrenta uma severa crise humanitária, o comandante do Estado-Maior israelense, general Herzi Halevi, aprovou no domingo "as próximas etapas da guerra", anunciou o porta-voz do Exército, Daniel Hagari.

Netanyahu mantém a determinação de iniciar uma ofensiva terrestre em Rafah, no extremo sul da Faixa, onde estão aglomeradas 1,5 milhão de pessoas, a maioria deslocados pela guerra.

As organizações humanitárias e grande parte da comunidade internacional são contrárias à operação, pois temem um banho de sangue na cidade, próxima da fronteira fechada com o Egito.

O Exército afirma que alguns dos reféns do 7 de outubro estão detidos em Rafah. Mais de 250 pessoas foram sequestradas naquele dia e 129 permanecem em cativeiro em Gaza, incluindo 34 que teriam sido mortas, segundo Israel.

"No Pessach, completam 200 dias de cativeiro para os reféns [...]. Lutaremos até o retorno de vocês", disse o porta-voz do Exército.

- 50 cadáveres exumados -

O Exército israelense bombardeou nesta segunda-feira os campos de refugiados de Nuseirat e Maghazi, assim como o litoral em Deir el Balah, no centro da Faixa de Gaza, e as cidades de Rafah e Khan Yunis, no sul.

Os bombardeios também atingiram o bairro de Zeitoun, na cidade de Gaza, no norte, e vários drones explodiram no pátio de uma escola, no campo de Al Bureij, no centro.

Em Khan Yunis, a Defesa Civil anunciou no domingo que exumou ao menos 50 cadáveres de palestinos enterrados no complexo do hospital Nasser, um dos maiores do território.

"Alguns corpos estavam nus, o que certamente indica que sofreram tortura e abusos", disse Mahmud Bassal, porta-voz da Defesa Civil.

Correspondentes da AFP viram funcionários da agência desenterrando restos humanos perto do hospital, enquanto moradores de Gaza se aproximaram para tentar encontrar parentes desaparecidos.

Uma das integrantes do grupo de moradores era Um Mohammed al Harazeen, cujo marido desapareceu há um mês. "Ele só saía de casa para conseguir comida e água. Ele desapareceu quando o Exército israelense entrou em Khan Yunis", disse.

A descoberta macabra aconteceu no momento em que o governo dos Estados Unidos aprovou uma ajuda militar de 13 bilhões de dólares para Israel.

O Hamas considerou que a ajuda dá "sinal verde" a Israel "para continuar com a agressão brutal" contra os palestinos e acusou Washington de ter "responsabilidade política, jurídica e moral pelos crimes de guerra" cometidos por Israel.


Mais Lidas