ESTADOS UNIDOS

Novo enviado de Trump afirma que vai trabalhar para que Groenlândia passe a fazer parte dos EUA

A Dinamarca alerta a Washington para que respeite sua soberania e a Groenlândia afirma que irá decidir seu próprio futuro.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gerou um novo desentendimento com a Dinamarca, ao nomear um enviado especial para a Groenlândia, a vasta ilha no Ártico que ele declarou querer anexar ao território americano.

No domingo (21/12), Trump anunciou o governador republicano do Estado da Louisiana, Jeff Landry, como enviado especial dos Estados Unidos para a Groenlândia, uma região semiautônoma do Reino da Dinamarca.

Landry declarou no X, antigo Twitter, que é uma honra servir em um "cargo voluntário para fazer da Groenlândia parte dos Estados Unidos".

A medida irritou o governo em Copenhague, que declarou que irá convocar seu embaixador nos Estados Unidos em busca de "uma explicação".

Já o primeiro-ministro da Groenlândia, Jens-Frederik Nielsen, afirmou que a ilha deve "decidir seu próprio futuro" e que "sua integridade territorial deve ser respeitada".

Desde que voltou à Casa Branca, em janeiro, Trump reviveu seu antigo interesse pela Groenlândia, destacando sua localização estratégica e suas riquezas minerais. Ele não descartou o uso da força para assumir o controle da ilha.

Esta posição chocou a Dinamarca, um aliado da Otan que, tradicionalmente, sempre teve relações próximas com Washington.

Na Groenlândia, moram cerca de 57 mil pessoas. A ilha conta com amplo governo próprio desde 1979, mas sua defesa e política externa permanecem sob o controle dinamarquês.

A maioria dos groenlandeses defende sua eventual independência da Dinamarca, mas as pesquisas de opinião demonstram esmagadora oposição a que a ilha passe a fazer parte dos Estados Unidos.

Integridade territorial

O ministro do Exterior da Dinamarca, Lars Lokke Rasmussen, descreveu a nomeação de Landry como "profundamente inquietante" e alertou Washington para que respeite a soberania dinamarquesa.

Ele declarou à rede de TV pública da Dinamarca TV2 que, "enquanto tivermos um reino composto pela Dinamarca, as ilhas Faroé e a Groenlândia, não podemos aceitar ações que prejudiquem nossa integridade territorial".

O primeiro-ministro da Groenlândia declarou que o território está disposto a cooperar com os Estados Unidos e com outros países, mas apenas com base no respeito mútuo.

"A nomeação de um enviado especial não muda nada para nós", segundo ele. "Nós decidimos o nosso próprio futuro. A Groenlândia pertence aos groenlandeses e a integridade territorial deve ser respeitada."

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, declarou no X que a UE mantém "total solidariedade com a Dinamarca e com o povo da Groenlândia".

Nas redes sociais, Trump afirmou que Landry compreende como "a Groenlândia é essencial para a nossa segurança nacional" e fará avançar os interesses americanos.

Os enviados são pessoas nomeadas informalmente. Ao contrário dos diplomatas oficiais, eles não precisam ser aprovados pelo país anfitrião.

O significado desta nomeação é a premissa americana de que a Groenlândia é um território separado da Dinamarca e a afirmação do enviado de que irá ajudar a ilha a se tornar parte dos Estados Unidos.

Por isso, esta nomeação demonstra que a ambição de Trump de controlar a Groenlândia permanece inalterada.

Como na sua agressão retórica e militar contra a Venezuela, esta iniciativa indica que o presidente americano está determinado a ampliar seu controle sobre o chamado "hemisfério ocidental", como diz a sua recente Estratégia de Segurança Nacional — uma esfera de influência que ele espera que venha a cobrir todo o continente americano.

Trump tentou comprar a Groenlândia durante seu primeiro mandato presidencial (2017-2021). Tanto a Dinamarca quanto o governo groenlandês rejeitaram a proposta apresentada em 2019, afirmando que "a Groenlândia não está à venda".

Reuters

Landry já expressou anteriormente sua opinião sobre a Groenlândia. Em janeiro, ele escreveu na sua conta pessoal no X:

"O presidente Donald J. Trump está absolutamente certo! Precisamos garantir que a Groenlândia faça parte dos Estados Unidos. ÓTIMO para eles, ÓTIMO para nós! Mãos à obra!"

Landry é veterano das Forças Armadas e ex-oficial de polícia, além de ter sido congressista e procurador-geral da Louisiana, antes de ser eleito governador do Estado em 2023. Ele declarou que seu novo cargo não afetará suas obrigações como governador.

O questionamento sobre a nomeação de Landry surge paralelamente ao aumento da competição estratégica no Ártico. O derretimento do gelo da região abre novas rotas de navegação e amplia o acesso a recursos minerais valiosos.

A localização da Groenlândia no Ártico, entre a América do Norte e a Europa, também faz com que a ilha seja fundamental para o planejamento de segurança dos Estados Unidos e da Otan.

Os Estados Unidos mantêm uma base na Groenlândia desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Os americanos invadiram o território para construir postos militares e estações de rádio, quando os nazistas ocuparam a Dinamarca durante o conflito.

O vice-presidente americano, J.D. Vance, visitou a base dos EUA em março e pediu ao povo groenlandês que "firmasse um acordo com os Estados Unidos".

Em 2020 (durante o primeiro mandato de Donald Trump), Washington reabriu seu consulado na capital da Groenlândia, Nuuk. Ele estava fechado desde 1953. Diversos países europeus, além do Canadá, mantêm consulados-gerais honorários na Groenlândia.

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