O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi submetido nesta quinta-feira (25/12) a uma cirurgia para corrigir hérnias na região da virilha.
Esta é a oitava cirurgia à qual Bolsonaro é submetido desde que foi vítima de uma facada durante a campanha nas eleições presidenciais de 2018.
Segundo uma postagem em seu perfil nas redes sociais, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), disse que o procedimento foi realizado com sucesso.
A cirurgia começou por volta das 9h e a previsão era de que terminasse por volta das 13h. A expectativa, segundo a equipe médica, é que ele fique internado por aproximadamente uma semana antes de voltar à carceragem da Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal, em Brasília.
É lá que Bolsonaro vem cumprindo sua pena de 27 anos de prisão por crimes como golpe de Estado e tentativa de abolição ao Estado democrático de Direito. A condenação foi determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro deste ano. Bolsonaro, no entanto, alega ser inocente.
A cirurgia de Bolsonaro acontece em um momento de definições no ambiente político brasileiro, especialmente na direita. No início de dezembro, o senador e filho do ex-presidente, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), anunciou que seu pai o escolheu como candidato à Presidência da República em 2026.
O anúncio, porém, foi recebido com contrariedade por alguns aliados do ex-presidente que duvidam da capacidade de Flávio liderar a direita nas eleições do ano que vem.
Mesmo preso, Bolsonaro ainda é considerado por analistas políticos como o principal nome da direita brasileira e, por isso, sua cirurgia vem sendo acompanhada com atenção por políticos e apoiadores.
Veja, abaixo, três pontos sobre a nova cirurgia do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O motivo da cirurgia
De acordo com a equipe médica que acompanha o ex-presidente, Bolsonaro precisou ser submetido a uma nova cirurgia para corrigir um quadro de hérnia inguinal bilateral.
Uma hérnia acontece quando algum órgão ou tecido "escapa" do abdômen por uma fresta na musculatura. No caso de Bolsonaro, de acordo com o laudo elaborado pela Polícia Federal, o ex-presidente apresenta hérnias nas duas virilhas. Na direta, foi constatado a saliência de uma alça do intestino.
Na esquerda, os peritos identificaram uma saliência de uma camada de gordura que reveste o abdômen.
Ainda segundo o laudo da PF, as hérnias na região inguinal (virilha) têm maior incidência em homens idosos.
Segundo os peritos da PF, apesar de haver a possibilidade de tratamento não operatório, a maioria dos cirurgiões recomenda a intervenção cirúrgica nos casos de hérnia inguinal.
Isso acontece porque, segundo eles, a tendência é de que o quadro se agrave com o tempo podendo levar a situações mais graves como o "estrangulamento" do órgão ou do tecido que escapou da parede muscular.
Apesar de ser a oitava internação de Bolsonaro para cirurgias desde a facada, Flávio Bolsonaro disse estar confiante sobre o resultado dos procedimentos.
"Se Deus (ele) quiser, ela (cirurgia) vai ser bem-sucedida como todas as outras e vai sair mais forte do que nunca dessa", disse o senador nesta quinta-feira.
Bolsonaro vem enfrentando sucessivas cirurgias desde que foi vítima de um atentado a faca na reta final da campanha presidencial de 2018.
Durante um comício em Juiz de Fora (MG), ele foi esfaqueado por Adélio Bispo, que foi diagnosticado com problemas psiquiátricos e que atualmente cumpre pena em uma penitenciária federal em Campo Grande (MS).
De acordo com nota divulgada pelo hospital DF Star, onde Bolsonaro está internado, a cirurgia teria duração de quatro horas e precisaria ser feita sob anestesia geral.
Além da cirurgia de hérnia, a equipe médica de Bolsonaro também recomendou uma intervenção para tentar diminuir os quadros de soluço apresentado pelo ex-presidente. Bolsonaro vinha reclamando há meses de crises demoradas de soluço que estariam afetando seu humor, sua respiração e sua alimentação.
Neste caso, a equipe médica recomendou um procedimento de anestesia do nervo frênico. Este nervo é fundamental para o controle do diafragma e, consequentemente, da respiração.
Segundo os peritos, o bloqueio anestésico deste nervo é um dos tratamentos indicados para casos de crises de soluço como o apresentado por Bolsonaro.
De acordo com a nota do hospital, a necessidade deste procedimento será analisada ao longo da internação de Bolsonaro.
Esquema de segurança
A cirurgia de Bolsonaro teve de ser autorizada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, relator do processo no qual foi condenado em setembro.
Para que Bolsonaro pudesse ser operado, Moraes determinou um rígido esquema de segurança.
O esquema determinado por Moraes previa:
- Transporte sob escolta policial entre a Superintendência da PF em Brasília e o hospital DF Star. Uma vez no hospital, Bolsonaro deveria entrar pela garagem
- Vigilância da PF sobre o hospital e sobre o leito em que Bolsonaro ficará internado. Pelo menos dois agentes da PF deverão ficar na porta do leito de Bolsonaro durante todo o período de internação
- Proibição de entrada de computadores, telefones celulares, tablets e outros equipamentos eletrônicos exceto os da equipe médica. Os agentes da PF deverão fazer a revista dos que ingressarem no leito
- Visitas ao ex-presidente estão liberadas apenas à sua mulher, Michelle Bolsonaro, e aos filhos. Demais visitas precisam de autorização de Moraes
Inicialmente, Moraes havia autorizado apenas a visita de Michelle, mas às vésperas da cirurgia, ele alterou sua decisão e permitiu que os filhos do ex-presidente também o visitassem.
Gestos políticos
A nova cirurgia de Bolsonaro também resultou em gestos políticos em um momento de definições para a direita.
Ao longo dos últimos dias, familiares e apoiadores de Bolsonaro se manifestaram em solidariedade ao ex-presidente, mas também aproveitaram o momento para tratar das eleições de 2026.
As mais recentes aconteceram na véspera de Natal, com a divulgação de um vídeo de aproximadamente cinco minutos em que a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, pede orações a marido.
"Peço que continuem orando por ele, pelas famílias injustiçadas e pela nossa nação", disse Michelle no video que foi divulgado nas redes sociais na mesma hora em que foi transmitido um pronunciamento do presidente. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em rede nacional de rádio e televisão.
A principal manifestação política em torno da cirurgia de Bolsonaro, no entanto, aconteceu nesta quinta-feira, quando Flávio leu uma carta que, segundo ele, teria sido escrita e assinada por seu pai na qual o ex-presidente declara seu apoio formal à candidatura de Flávio à Presidência da República.
"Ao longo da minha vida, tenho enfrentado duras batalhas, pagando um preço alto, com a minha saúde e família, para defender aquilo que acredito ser o melhor para o nosso Brasil. Diante desse cenário de injustiça, e com o compromisso de não permitir que a vontade popular seja silenciada, tomo a decisão de indicar Flávio Bolsonaro como pré-candidato à presidência da república em 2026.", diz um trecho da carta lida por Flávio em frente ao hospital pouco tempo depois de o pai entrar no centro cirúrgico.
A leitura da carta acontece em meio aos ruídos dentro da direita desde que Flávio anunciou que seu pai teria chancelado sua candidatura.
Desde então, aliados de Jair Bolsonaro como o pastor Silas Malafaia criticaram o movimento.
"Para mostrar a falta de estratégia de Flávio. Ele nem primeiro reuniu o partido dele para falar "tive com meu pai. A conversa foi assim". (Ele devia) reunir a liderança do Centro. Não usar uma rede social e querer botar goela abaixo (a pré-candidatura). Não é assim não", disse o pastor na semana passada.
O anúncio de Flávio movimentou outros integrantes da direita que esperavam por uma declaração de apoio de Bolsonaro ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
O governador, no entanto, declarou apoio à candidatura de Flávio e estuda a possibilidade de concorrer à reeleição em São Paulo.
