ASTRONOMIA

O Universo está ficando sem novas estrelas?

Os astrônomos têm observado indícios de que cada vez menos estrelas estão nascendo. Isso pode ser parte de um processo gradual de desaceleração do Universo e de tudo que nele existe. Mas por quê? E o quanto devemos nos preocupar?

Nada dura para sempre… nem mesmo o nosso Universo. Nas últimas duas décadas, os astrônomos têm detectado indícios de que o cosmos pode ter passado do seu auge. Um dos sinais reveladores é que cada vez menos estrelas estão nascendo.

Não que o Universo esteja ficando sem estrelas, veja bem. Há estimativas de que ele possa conter até um septilhão delas. Ou seja, 1, seguido de 24 zeros.

Mas os astrônomos acreditam que a produção de novas estrelas está diminuindo.

Uma estrela nasce... e morre

O consenso científico atual é que o Universo tem cerca de 13,8 bilhões de anos. As primeiras estrelas se formaram logo após o Big Bang.

De fato, no ano passado, o Telescópio Espacial James Webb encontrou um trio de estrelas em nossa própria galáxia, a Via Láctea, que, acredita-se, tem mais de 13 bilhões de anos.

As estrelas são essencialmente bolas gigantes de gás quente que começam sua vida da mesma maneira.

Elas se formam em enormes nuvens de poeira e gás espacial conhecidas como nebulosas. A gravidade atrai aglomerados de gás, que eventualmente se aquecem e se tornam uma estrela bebê, ou protoestrela.

Nasa/Esa/CSA/STScI; Processing: J DePasquale/A Pagan/A Koekemoer (STScI)
As protoestrelas são rodeadas por nuvens de material que alimentam seu crescimento

À medida que o núcleo da estrela aquece a milhões de graus, os átomos de hidrogênio em seu interior são comprimidos para formar hélio em um processo chamado fusão nuclear. Isso emite luz e calor, e a estrela agora está em uma fase estável, a "sequência principal".

Os astrônomos estimam que as estrelas da sequência principal, incluindo o nosso Sol, representam cerca de 90% de todas as estrelas do Universo. Elas variam em tamanho de um décimo a 200 vezes a massa do Sol.

Eventualmente, essas estrelas ficam sem combustível para queimar e podem seguir caminhos diferentes em sua jornada rumo à morte.

Estrelas de menor massa, como o nosso Sol, passam por um processo de declínio ao longo de bilhões de anos.

Para as "irmãs" maiores, que têm pelo menos oito vezes a massa do Sol, o fim é mais dramático: elas explodem em uma enorme explosão chamada supernova.

BBC

Estrelas veteranas dominam

Em 2013, uma equipe internacional de astrônomos que estudava tendências na formação de estrelas afirmou que 95% de todas as estrelas que existirão já nasceram.

"Claramente, estamos vivendo em um Universo dominado por estrelas antigas", disse o autor principal desse estudo, David Sobral, em um artigo no site Subaru Telescope na época.

Na linha do tempo do Universo, parece que o pico da formação de estrelas ocorreu há aproximadamente 10 bilhões de anos, em um período conhecido como Meio-dia Cósmico.

"As galáxias convertem gás em estrelas, e estão fazendo isso a uma taxa decrescente", diz o professor Douglas Scott, cosmólogo da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá.

O professor Scott é coautor de um estudo em pré-publicação, atualmente em processo de revisão por pares, que analisou dados dos telescópios Euclid e Herschel da Agência Espacial Europeia.

Ele e uma equipe internacional de pesquisadores conseguiram estudar simultaneamente mais de 2,6 milhões de galáxias, o que foi possível graças à missão do Euclid de criar um imenso mapa 3D do Universo.

Esa/Euclid/Euclid Consortium/Nasa; Processing: JC Cuillandre (CEA Paris-Saclay)/G Anselmi
A missão espacial Euclid capturou detalhes de berçários no Universo próximo, onde novas estrelas estão nascendo

Os astrônomos estavam particularmente interessados ??no calor emitido pela poeira estelar. Galáxias com uma taxa mais alta de formação estelar tendem a ter poeira mais quente, pois abrigam estrelas maiores e mais quentes.

A equipe descobriu que as temperaturas das galáxias têm diminuído gradualmente ao longo de vários bilhões de anos, segundo Scott.

"Já ultrapassamos em muito o tempo máximo de formação estelar, e haverá cada vez menos novas estrelas em cada geração de formação estelar", afirma ele.

O grande resfriamento?

É verdade que a morte de estrelas antigas pode levar à formação de novas estrelas usando o mesmo material, mas as coisas não são tão simples.

Vamos supor que tenhamos uma pilha de materiais de construção e os usamos para fazer uma casa. Se quisermos construir uma nova, certamente podemos tentar reciclar a construção antiga, mas nem tudo será útil.

"Isso significa que só podemos construir uma casa menor. Cada vez que a demolirmos, haverá menos material útil até que eu não consiga mais construir uma nova casa", explica Scott.

É praticamente isso que acontece com as estrelas.

"Cada geração de estrelas tem menos combustível para queimar e, eventualmente, não haverá combustível suficiente para formar uma estrela", diz o cosmólogo.

"Já sabemos que estrelas de baixa massa são muito mais comuns do que estrelas de grande massa no Universo."

Nasa/SDO
Os astrônomos estimam que o nosso Sol ainda tem mais 5 bilhões de anos antes de finalmente desaparecer

Os cientistas há muito teorizam que o Universo um dia chegará ao fim. Eles só não têm certeza de como e quando.

Uma das teorias mais aceitas atualmente é a morte térmica.

Também chamada de Grande Congelamento, ela prevê que, à medida que o Universo continua a se expandir, a energia se espalhará até que eventualmente fique frio demais para sustentar a vida. As estrelas se afastam umas das outras, ficam sem combustível e nenhuma nova se forma.

"A quantidade de energia disponível no Universo é finita", explica Scott.

Muitos zeros

Mas antes de lançar um olhar melancólico para o céu, é importante lembrar que o desaparecimento das estrelas levaria um tempo astronômico.

Esa/Webb/Nasa/CSA/J Lee/PHANGS-JWST Team
A formação de estrelas continuará por muito, muito tempo em muitas galáxias

O professor Scott estima que novas estrelas continuarão a surgir pelos próximos 10 a 100 trilhões de anos – muito depois de o nosso Sol provavelmente ter desaparecido.

Quanto ao Grande Congelamento, poderá demorar ainda mais: no início deste ano, astrônomos da Universidade Radboud, na Holanda, estimaram que o fim definitivo ocorreria em cerca de um quinvigintilhões de anos, ou seja, 1, seguido de 78 zeros.

Há bastante tempo, portanto, para apreciar as estrelas na próxima vez que tiver um céu limpo em uma noite.

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