Conjuntura

BC vê Selic próxima do limite

Ata do Copom mostra autoridade monetária preocupada com efeito prejudicial dos juros baixos no preço dos ativos e no funcionamento do sistema financeiro. Novas reduções da Selic, hoje em 2% ao ano, podem ocorrer, mas seriam mais espaçadas

Marina Barbosa
postado em 11/08/2020 23:49

O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), acredita que a retomada da economia após a crise do novo coronavírus será “ainda mais gradual”, o que vai deixar a inflação brasileira em baixa por um bom tempo. Porém, acredita que novos cortes na taxa básica de juros (Selic) podem ser prejudiciais ao sistema financeiro. E avisou que, por isso, a Selic está próxima do seu limite.

A avaliação do BC sobre o cenário econômico brasileiro veio à tona ontem com a publicação da ata da última reunião do Copom. Na ocasião, o Copom reduziu a Selic de 2,25% para a nova mínima histórica de 2% ao ano, em decisão unânime. O documento informa que o colegiado avaliou que “eventuais novas reduções na taxa de juros exigiriam cautela e gradualismo adicionais” e “poderiam ser temporalmente espaçadas”.

O Copom observou que os setores mais afetados pelo distanciamento social, como o de serviços, permanecem deprimidos e ainda há muitas incertezas sobre o ritmo da recuperação, sobretudo após a redução dos auxílios emergenciais que têm ajudado a estimular a economia.

Portanto, diz a ata, as pressões desinflacionárias vão durar mais que nas outras crises e o comitê continua projetando uma inflação abaixo da meta. O cenário básico do Copom considera inflação de 1,9% em 2020, de 3% em 2021 e de 3,4% em 2022, diante de um câmbio de R$ 5,20 e uma taxa de juros “que encerra 2020 em 2% ao ano e se eleva até 3% em 2021 e a 5% em 2022”.

O comitê também avisou que não há muito espaço para um novo corte da Selic. Para o Copom, “já estaríamos próximos do nível a partir do qual reduções adicionais na taxa de juros poderiam ser acompanhadas de instabilidade nos preços de ativos”. A taxa básica de juros, segundo o órgão, tem um limite mínimo que é “significativamente maior em economias emergentes” e tende a ser ainda maior no Brasil, dado o prêmio de risco que é exigido pelos investidores diante da “fragilidade fiscal e as incertezas quanto à sua trajetória fiscal prospectiva”.

Além disso, o Copom acredita que os juros muito baixos “podem comprometer o desempenho de alguns mercados e setores econômicos, com potencial impacto sobre a intermediação financeira”, além de “gerar aumento da volatilidade de preços de ativos e afetar, sem o devido tempo necessário de transição para um novo ambiente, o bom funcionamento e a dinâmica do sistema financeiro e do mercado de capitais”.

“Assim, o Comitê concluiu que eventuais novas reduções na taxa de juros exigiriam cautela e gradualismo adicionais. Para tal, se necessárias, novas reduções de juros demandariam maior clareza sobre a atividade e inflação prospectivas e poderiam ser temporalmente espaçadas”, avisou a ata. O BC também condicionou os juros baixos à manutenção do regime fiscal e à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo.

Para os analistas, o colegiado não fechou a porta para um novo corte de juros. Porém, avisou que esse corte só será feito em caso de uma deterioração adicional da economia e não será possível se o desequilíbrio fiscal se agravar ainda mais, o que poderia acontecer caso o teto de gastos fosse abandonado pelo governo. “A porta está aberta, mas a exigência está bastante alta”, comentou o analista da Clear Corretora, Rafael Ribeiro.

Por conta disso, também se espera que, além de gradual, um possível novo corte da Selic não seja feito na próxima reunião. “O Copom justifica uma pausa e um gradualismo adicional. Não deve mudar nada sem uma maior clareza sobre a atividade e a inflação futura”, acrescentou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez. A maior parte do mercado aposta que a Selic não será mais alterada em 2020, ou seja, vai fechar o ano nos atuais 2%.

 

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Acesso mais fácil a ações no exterior

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) decidiu facilitar o acesso de investidores brasileiros a ações de empresas estrangeiras negociadas em bolsas de valores no exterior. A partir de 1º de setembro, pessoas físicas poderão comprar papéis de companhias como Amazon, Facebook ou Twitter por meio de Brazilian Depositary Receipts (BDR) na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). Os BDRs são títulos representativos de ações estrangeiras. Até agora, apenas investidores qualificados (que possuem pelo menos R$ 1milhão em aplicações financeiras) tinha acesso a essas operações.

A medida da CVM preserva esta estrutura, porém flexibiliza as restrições existentes. Economistas avaliam que a decisão é importante, principalmente, para os novos investidores da bolsa. “O ato, na minha visão é um ótimo sinal no avanço dos mercados. Vai ficar mais fácil para as pessoas físicas investirem em BDRs de empresas estrangeiras negociadas na B3”, disse o consultor financeiro Eduardo Silveira. Uma das vantagens, observou, é que o investidor não precisará abrir conta em uma corretora fora do país para ter acesso a ações de companhias estrangeiras.

“A norma confere maior liberdade para investidores e emissores, na esteira de uma crescente demanda por diversificação de portfólios e de taxas de juros reduzidas”, comentou Marcelo Barbosa, presidente da CVM.

Os investimentos em BDRs são para quem quer investir em ativos estrangeiros sem tirar o capital do Brasil. Além de ações, os investidores pessoas físicas não qualificados poderão comprar títulos de dívida emitidos por empresas brasileiras no exterior e fundos de índices (ETFs). Também será possível ao investidor nacional ter acesso a papéis emitidos por empresas brasileiras apenas em bolsas de valores estrangeiras, por exemplo.

A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) publicou em suas redes sociais nota informando que está em processo de operacionalização da nova norma. “A CVM alterou a regulação de BDRs, papéis que permitem a negociação de ações de empresas estrangeiras no Brasil, liberando o produto para negociação de qualquer investidor pessoa física”, diz o comunicado.

Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

 

Bolsa cai 1,23%
Em dia de notícias importantes sobre possíveis vacinas contra a covid-19, o mercado financeiro teve dia de alta volatilidade. Na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), o índice Ibovespa fechou em forte queda de 1,23% aos 102.174 pontos, puxado principalmente por ações de commodities e em meio a preocupações sobre questões fiscais envolvendo o governo federal. A queda, no entanto, foi, predominantemente, fruto de uma realização de lucros, que é quando ocorre a venda de papéis que se valorizaram para efetivar os ganhos, segundo analistas. O dólar terminou o dia em retração de 0,93%, cotado a R$ 5,416 para venda.

 

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação