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Se, entre os empresários do setor produtivo, o apoio ao presidente da República é crescente — pesquisa Datafolha mostra que a aprovação de Jair Bolsonaro entre esse público pulou de 48% para 58% entre junho e agosto — entre os banqueiros impera o ceticismo em relação ao chefe do Executivo

Vicente Nunes
postado em 16/08/2020 22:50
 (crédito: Alan Santos /PR - 30/7/20)
(crédito: Alan Santos /PR - 30/7/20)

No peito de Bolsonaro bate um coração populista e nada liberal, dizem banqueiros

 

Se, entre os empresários do setor produtivo, o apoio ao presidente da República é crescente — pesquisa Datafolha mostra que a aprovação de Jair Bolsonaro nesse público pulou de 48% para 58% entre junho e agosto —, entre os banqueiros impera o ceticismo em relação ao chefe do Executivo federal. Para esta ala, no peito de Bolsonaro bate um coração populista e nada liberal. E esse não é o perfil ideal para conduzir um país com a grandeza dos problemas que se vê no Brasil.

Os banqueiros reconhecem, porém, que votaram em peso, no segundo turno, para a eleição do atual presidente. Não queriam a volta da esquerda ao poder, justamente, por medidas populistas que encantam Bolsonaro, como gastança desenfreada, assistencialismo para garantir currais eleitorais e Estado inchado, com estatais que deveriam ser privatizadas, mas servem para abrigar aliados políticos — no caso do atual governo, também de militares da reserva que encontraram um filão para engordar as contas bancárias.

Nas análises mais recentes que fazem do governo, os banqueiros acreditam que o compromisso com o ajuste fiscal será testado a todo momento — isso ficará mais evidente a partir do segundo semestre de 2021, quando Bolsonaro estará mergulhado de vez na campanha à reeleição — e que quase nada será feito para conter desmatamentos e invasões na Amazônia. Para esse grupo, mesmo com uma possível saída de Paulo Guedes do Ministério da Economia e da alta dos juros que será promovida pelo Banco Central, são relevantes as chances de Bolsonaro reeleger-se em 2022.

O ideal, na visão dos banqueiros, é que fosse construída uma candidatura de peso de centro, com força para ir ao segundo turno das disputas pela Presidência. Mas, hoje, não há tal perspectiva, o que favorece muito o presidente, pois ainda impera, entre os eleitores mais conservadores, o temor de que o PT ou qualquer candidato de esquerda assuma o Palácio do Planalto. Mesmo esse grupo de eleitores tendo ressalvas a Bolsonaro, prefere ele a qualquer um que lembre Luiz Inácio Lula da Silva ou Dilma Rousseff.

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O risco de se repetir Maurício Macri

 (crédito: Juan Mabromata/AFP - 27/10/19)
crédito: Juan Mabromata/AFP - 27/10/19

Mauricio Macri. É ao ex-presidente da Argentina que o ministro da Economia, Paulo Guedes, e seus auxiliares mais próximos se remetem quando se referem ao flerte do presidente Jair Bolsonaro com aumento dos gastos e medidas populistas. Macri, como se sabe, desesperado para se reeleger, recorreu a um pacote de ações que resultarou na explosão de despesas e na derrocada financeira da Argentina. Justo ele que assumiu um discurso liberal, de combate a todas as políticas assistencialistas de governos anteriores e de arrocho fiscal para retomar a credibilidade do país junto aos investidores. Não custa lembrar: antes das eleições, Macri deu dois aumentos ao salário mínimo, instituiu bônus para servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada, aliviou impostos para a classe média, decretou moratória nas dívidas de pequenas e médias empresas e congelou os preços dos combustíveis por 90 dias.
Como diz um dos mais próximos auxiliares de Guedes, para ficar com a cara de Macri, basta Bolsonaro seguir os conselhos dos ministros Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e Braga Netto (Casa Civil). Se insistir nesse caminho, ressalta o técnico, em vez de ficar mais quatro anos no Planalto, o presidente voltará para a Barra da Tijuca.

Cobra comendo cobra

Em períodos nos quais o chefe parece fraco, subalternos botam as asas de fora em busca de mais espaços. É o que está se vendo no Ministério da Economia. “A impressão que temos é a de que há cobra comendo cobra”, afirma um aliado de Paulo Guedes.

Waldery versus Sachsida

Quem acompanha o dia a dia do Ministério da Economia diz que já foi melhor a relação entre o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, e o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida. Mas, Paulo Guedes já entrou no circuito para acalmar os ânimos.

A política sobrepõe-se à economia

Diante da crise que se instalou no Ministério da Economia, com a saída de Salim Mattar e Paulo Uebel e as declarações de Paulo Guedes, o cientista político Luiz Felipe D’Ávila, presidente do Centro de Liderança Pública (CLP), diz que o governo iniciou uma nova fase. Para ele, a agenda política, agora, vai se sobressair ante a agenda econômica. “A pauta liberal acabou”, afirma. Na opinião dele, o presidente Jair Bolsonaro deve iniciar um novo ciclo alinhado ao Centrão e com foco no desenvolvimentismo. A dúvida é se Guedes continuará à frente da Economia. “Se houver qualquer flexibilização do teto de gasto, acho que ele pode, sim, sair do governo.”

Rapidinhas

» De olho na crescente demanda das médias empresas por produtos e soluções de negócios cada vez mais sofisticados, o Itaú Unibanco reformulou o atendimento e passou a imprimir a marca Itaú BBA à operação de Middle Market. Responsável por uma carteira de mais de R$ 50 bilhões, a área abrange mais de 20 mil clientes com faturamento entre R$ 30 milhões e R$ 500 milhões. São mais de 50 pontos de atendimento por todo o país, que, aliados ao contato virtual, garantem maior proximidade com os clientes e uma atuação mais especializada e com consultoria para acompanhar a evolução e o desenvolvimento desse grupo de companhias.

» Com interação, entrevistas sobre saúde e gastronomia que valoriza o cerrado, a apresentadora Mônica Nóbrega inova na internet. Com 100 mil seguidores no YouTube, lança programa Viver em Brasília.

» A Vale realiza, até o fim do ano, uma série de reuniões virtuais para conhecer fornecedores das cidades mineiras onde está presente, ampliando o número de empresas em seu cadastro para contratações. A iniciativa acontece em parceria com associações comerciais e outras instituições locais e tem como foco a captação de companhias para contratação de serviços pontuais via Solicitação de Pagamento de Serviço e fornecimento de materiais via cartão de crédito. Somente no primeiro semestre, 76% das compras totais da Vale em Minas Gerais foram feitas de fornecedores locais, o correspondente a R$ 6,6 bilhões.

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