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Juros: BC endurece discurso

Presidente do Banco Central diz que foco da autoridade monetária é trazer a inflação para a meta, sem considerar o cumprimento de objetivos secundários de preservar empregos e manter a atividade econômica

Rosana Hessel
postado em 17/12/2021 00:01
 (crédito: Alessandro Dantas/AFP)
(crédito: Alessandro Dantas/AFP)

Após manter a taxa básica de juros baixa por um período maior que o necessário — o que foi um erro, na visão de especialistas em politica monetária —, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vem adotando um tom cada vez mais duro ao falar sobre o combate à inflação. Ontem, ele disse que o foco do BC é ancorar as expectativas inflacionárias por meio das taxas de juros e descartou o cumprimento de metas secundárias de emprego e de atividade econômica — sinalizando uma política monetária ainda mais contracionista, que pode por o país em recessão.

"Os exemplos brasileiros mostram que você tem que colocar o país em recessão para recuperar a credibilidade", disse Campos Neto, durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI). O BC reduziu as previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e do próximo e elevou as estimativas de inflação, por conta da piora na conjuntura econômica e fiscal. Contudo, elas ainda continuam mais otimistas do que as do mercado.

Campos Neto lembrou a herança inflacionária recente do país para afirmar que é muito importante passar a mensagem de que o BC vai perseguir a meta. "O processo vai se estender até quando as expectativas fiquem ancoradas", disse. "Vamos ter, sim, uma elevação de juros com um crescimento econômico não muito elevado. Mas se isso for feito de forma a ter credibilidade, com transparência, é o melhor remédio para maximizar o crescimento futuro", afirmou.

Conforme os dados do relatório, o Banco Central reduziu de 4,7% para 4,4% a previsão de crescimento do PIB deste ano, e de 2,1% para 1% a do ano que vem. Enquanto isso, as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passaram de 8,4% para 10,2%, em 2021, e de 3,7% para 4,7%, em 2022. A meta de inflação deste ano é de 3,75%, com limite superior de 5,25%. Para 2022, ela cai para 3,50%, com teto de 5%.

Apesar de o RTI sinalizar uma taxa básica de juros de 11,75% ao longo de 2022, devendo recuar para 11,22% no fim do ano, Campos Neto disse que ainda não é possível afirmar qual será o juro no final do próximo ano.

Nas novas projeções, o BC também elevou a estimativa de juro neutro, de 3% para 3,5%, o que indica política monetária mais contracionista, lembram analistas. Pelas estimativas do ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, com o atual ritmo de alta da Selic e a perspectiva de queda da inflação no ano que vem, os juros neutros podem subir ainda mais e chegar a 6%.

"O BC admite um choque de juros para trazer a inflação para a meta, o que acho desnecessário. As taxas de juros reais do primeiro semestre de 2022 podem chegar a 6% e, como a Selic deverá permanecer alta até o fim do ano, o comércio e a indústria vão sentir", avaliou Gomes. Ele disse não ter dúvidas de que o BC errou no diagnóstico e, agora, tenta correr atrás do prejuízo". Para Gomes, se o BC não se preocupar com as metas secundárias, "é provável" que o país entre em recessão.

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