O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), prévia da inflação oficial, fechou 2021 com alta de 0,78% em dezembro, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ontem. Esse é o maior acumulado do ano desde 2015.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, sete apresentaram alta em dezembro. O maior impacto foi no ramo de Transportes, que encerra 2021 com acumulado de 21,35%. O desempenho foi puxado pelo aumento nos preços dos combustíveis (3,40%).
A gasolina foi uma das principais responsáveis pelo acumulado do ano. O aumento foi de 3,28%.Também houve influência dos valores do etanol (4,54%) e do óleo diesel (2,22%). No entanto, as variações foram menores que as do mês anterior (7,08% e 8,23%, respectivamente).
No grupo Habitação, que apresentou aumento de 0,90%, o peso é maior por conta dos reajustes da energia elétrica. Desde o mês de setembro, está em vigor a bandeira Escassez Hídrica, que acrescenta R$ 14,20 na conta de luz a cada 100 quilowatt-hora consumidos.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o motivo é a piora da crise hídrica, que exigiu medidas adicionais do setor elétrico para não faltar energia em outubro e novembro — meses mais críticos do ano.
Em Alimentação e Bebidas, a alta de 0,35% teve contribuição individual do café moído (9,10%), além dos preços das frutas (4,10%) e das carnes (0,90%) que subiram em dezembro, após recuos do mês anterior.
Saúde e cuidados e Educação não registraram salto neste mês, conforme o IBGE. No lado das quedas, os destaques foram o tomate (-11,23%), o leite longa vida (-3,75%) e o arroz (-2,46%).
O gás encanado subiu 2,58%, puxado pelos reajustes de 6,90% no Rio de Janeiro (4,06%), aplicado a partir de 1º de novembro, e de 17,64% em São Paulo (2,28%), início em 10 de dezembro. O botijão teve alta de 0,51%, e os preços subiram pelo 19º mês seguido, com acumulado de 38,07% em 2021.
Expectativas
Na última pesquisa divulgada pelo Focus do Banco Central, os analistas do mercado financeiro reduziram a estimativa de inflação para 2021 e também passaram a prever uma expansão menor do nível de atividade neste ano.
A inflação é ainda mais cruel para a população em situação de vulnerabilidade. "Ela tem vindo na cesta de consumo da classe de baixa renda, o que afeta muito a qualidade de vida em aturar um governo completamente alheio às necessidades básicas da população. Os R$ 400 do Auxílio Brasil não vão compensar a sensação de perda do poder de compra e queda de renda do trabalhador", ressalta a economista Elena Landau.
O economista e professor da Faculdade Ibmec, William Baghdassarian, explica que a inflação atual tem um componente externo e doméstico. O primeiro é marcado pela intervenção monetária de bancos na economia, resultando no aquecimento da economia e, posteriormente, em pressões inflacionárias em 2021.
"No doméstico, por conta da diminuição das chuvas, houve um efeito, por exemplo, na produção de álcool, que afetou o preço da gasolina; sobre a produção de energia elétrica, afetando a bandeira tarifária; além do preço das commodities, que acabou subindo em dólar, mercado internacional. Então, são efeitos que estão fora do controle da autoridade monetária aqui no Brasil e do Banco Central", destaca Baghdassarian.
O economista cita o papel do governo federal como agente desestabilizador durante a pandemia, além da questão da política fiscal, cujos gastos superam as arrecadações. "Eu diria que 2021 foi um ano em que nos sentimos mais pobres e boa parte da população com renda muito baixa não consegue se defender (da alta dos preços)", observa.
Para 2022, o economista não vê uma melhora expressiva no cenário."Deve cair, mas nem tanto. Os números que vemos no relatório Focus falam em algo em torno de 5% (estimativa de inflação). Eu diria algo entre 7% e 8%", analisa.
De acordo com o Banco Central, a projeção dos analistas para a inflação de 2021 recuou de 10,05% para 10,04%. Foi a segunda semana seguida de queda do indicador.
Se confirmada a previsão, será a primeira vez que a inflação atinge o patamar de dois dígitos desde 2015, quando somou 10,67%.
Para 2022, o mercado financeiro elevou de 5,02% para 5,03% a estimativa de inflação. Com isso, a inflação segue acima do teto do sistema de metas para o ano que vem (5%).
A meta central de inflação para 2022 é de 3,50%.
*Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre
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