conjuntura

Investimentos: perda geral

A maioria das aplicações financeiras não consegue acompanhar a disparada da inflação e termina 2021 no vermelho

Rosana Hessel
postado em 31/12/2021 00:01

Com a escalada da inflação, praticamente todos os investimentos tradicionais tiveram desempenho ruim e não conseguiram recuperar as perdas com a alta do custo de vida ao longo de 2021. Conforme dados levantados pela Economática, a pedido do Correio, apenas as bitcoins e os investimentos em ações de empresas estrangeiras emitidas no Brasil, os chamados BDRs (Brazilian Depositary Receipt), tiveram rendimento acima da inflação.

Os demais investimentos, como poupança, CDB, Tesouro Direto, ouro e dólar, amargaram perdas, como foi o caso da Bolsa de Valores e do euro. Apesar de encerrar o último pregão do ano com alta de 0,69%, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) acumulou desvalorização de 11,93% no ano, fechando, ontem, a 104.822 pontos. Foi a primeira queda anual desde 2015 do Índice Bovespa, principal indicador da B3.

Aliás, o IBovespa perdeu feio para as bolsas internacionais, inclusive, para as vizinhas da Argentina e do Chile que, apesar das turbulências internas, acumularam altas de 63% e 3,19%, respectivamente, como mostra um levantamento da RB Investimentos. Em Nova York, a bolsa de tecnologia Nasdaq, avançou 22,5% no ano. O dólar, por sua vez, seguiu valorizado frente ao real, apesar da queda de 2,06% ontem, quando encerrou o pregão cotado a R$ 5,576 para a venda.

Considerando a inflação do ano, as perdas reais do Ibovespa superam a casa de 20%. O Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV), usado para corrigir os aluguéis, por exemplo, fechou o ano com alta de 17,78%. Já a mediana das estimativas do mercado aponta que o indicador da inflação oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deverá registrar elevação de 10,02%.

Enquanto isso, a bitcoin teve valorização nominal de 75,83%, até o último dia 29, e as BDRs subiram 33,65%, até ontem, de acordo com os dados da Economática. Já aplicações como os fundos de renda fixa ou CDBs, que acompanham o CDI, renderam 4,35% no ano.

Os títulos públicos também acumularam perdas. Um dos indicadores que acompanha a carteira dos papéis do Tesouro Nacional atrelados IPCA, o IMA-B, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), teve variação negativa de 1,51%.

Confusões

A inflação mais persistente e acima do esperado no início de 2021 foi um fenômeno mundial. Mas, no Brasil, houve fatores que contribuíram para um desempenho pior da B3 e dos investimentos de forma geral, como as confusões do governo na condução da política econômica, abandonando o discurso de austeridade fiscal para uma guinada populista e de gastança, de acordo com os analistas. Além disso, como a inflação não cedeu ao longo do ano, o Banco Central passou a elevar a taxa básica da economia (Selic), de 2%, em março para 9,25% em dezembro.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, lembrou que a inflação contribuiu para as perdas na B3, pois os investidores mais tradicionais, que têm aversão ao risco, foram deixando o mercado de ações à medida que a taxa Selic subia. "A antecipação do cenário eleitoral também contribuiu para o aumento da desconfiança, porque o governo procurou adotar uma posição mais populista, abrindo mão de buscar uma reforma administrativa e uma reforma tributária para ir atrás de medidas que visam apoio no ano que vem", afirmou Cruz, em referência às sinalizações de aumento de gastos com fins eleitoreiros promovidas com a PEC dos Precatórios e com o Orçamento de 2022.

De acordo com o economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, Eduardo Velho, a inflação deverá continuar persistente no início de 2022 e dificilmente ficará abaixo do teto da meta do próximo ano, de 5%. Ele prevê que a Selic deverá continuar subindo e encerrar o ano entre 11% e 12%, o que será um empecilho para a recuperação da atividade econômica.

"O ano de 2021 foi ruim para a maioria dos investidores, e tudo indica que 2022 poderá ser pior, porque há muitas incertezas em torno das eleições e do crescimento do país. Por isso, a desconfiança dos consumidores e dos empresários está crescendo", destacou. Ele lembrou que o cenário externo também não será nada favorável, pois os bancos centrais dos países desenvolvidos anteciparam as altas de juros e devem enxugar a liquidez do mercado. "Isso não será bom para os mercados emergentes como o Brasil", alertou.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação