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Petrobras diz 'não' a russos

Empresa suspende tratativas para transferir fábrica de fertilizantes em Mato Grosso do Sul ao grupo Acron. Segundo a estatal, plano de operações apresentado pelo comprador não poderia ser aprovado pelo governo

A Petrobras anunciou, ontem, a interrupção da venda da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN-III), no município de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul, ao grupo russo Acron. De acordo com a estatal brasileira, a previsão é lançar um novo processo de venda no início de junho.

Em comunicado, a estatal não detalhou as dificuldades para a continuidade do negócio, mas informou que a proposta apresentada pelo comprador não pode ser aprovada pelo governo. "O plano de negócios proposto pelo potencial comprador, em substituição ao projeto original, impossibilitou determinadas aprovações governamentais que eram necessárias para a continuidade da transação", diz o documento.

Na sequência, a empresa explica que está finalizando o "processo de desinvestimento", mas que pretende adotar total transparência para as novas etapas do processo de venda da fábrica. "A companhia está realizando os trâmites internos para encerramento do atual processo de venda e preparando o lançamento de um novo teaser tão logo possível. A previsão é lançar o novo processo já no início de junho."

A venda da fábrica de fertilizantes ao grupo russo Acron foi anunciada pela Petrobras em 2 de fevereiro, pouco antes da invasão da Ucrânia pela Rússia. Na mesma época, o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma controvertida visita ao líder russo, Vladimir Putin, para, segundo justificou, garantir o fornecimento de fertilizantes não Brasil, produto do qual o país é dependente de importações.

Em abril, as importações de fertilizantes ficaram pouco acima de 2 milhões de toneladas, segundo dados oficiais, volume 10% maior que o desembarcado no país no mesmo mês do ano passado. Em valor, as importações somaram US$ 1,3 bilhão, com alta de 258% em relação a abril de 2021.

Com o início da guerra na Ucrânia, países ocidentais impuseram sanções econômicas à Rússia, incluindo o banimento do país do sistema bancário internacional.

A Petrobras começou a vender ativos considerados não essenciais em 2014. O processo se acelerou com a crise vivida pela companhia em consequência dos casos de corrupção investigados na Operação Lava-Jato — o chamado escândalo do "Petrolão. Para recuperar suas finanças, após a convulsão política que culminou no impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), a estatal decidiu sair do mercado de fertilizantes e fechou undiades na Bahia e em Sergipe.

Em 2020, a estatal firmou a venda da fábrica em Três Lagoas (MS) para o grupo Acron, com cerca de 80% das obras concluídas.

No último dia 4 de fevereiro, por meio de nota, a companhia anunciou que havia chegado a um acordo para as minutas contratuais e "para a venda de 100%" da unidade ao grupo russo".

A nota dizia também que a "assinatura do contrato de venda depende ainda de tramitação na governança da Petrobras, após as devidas aprovações governamentais".