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Endividamento bate recorde

Pesquisa mostra que 77,7% das famílias têm algum tipo de dívida em aberto. Inadimplência também está em alta. Segundo analistas, com a renda corroída pela inflação, as pessoas buscam crédito para manter o consumo

Isabel Dourado*
postado em 03/05/2022 00:01
 (crédito: Itamar Aguiar/Raw Image/D.A Press)
(crédito: Itamar Aguiar/Raw Image/D.A Press)

Com a inflação em disparada, o endividamento das famílias cresceu e bateu recorde. Em abril, 77,7% das famílias tinham dívidas em aberto, segundo dados da Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). É o maior patamar desde o início da série histórica, em 2010. Além disso, a inadimplência também aumentou. De acordo com o levantamento, 31,9% das famílias de renda mais baixa estão com contas em atraso. No grupo de renda mais elevada, 13,5% estão inadimplentes.

A pesquisa mostra que o quadro se agravou nos últimos meses. Em março, o percentual de famílias endividadas era de 77,5%; em fevereiro, de 76,6%. Em relação a abril de 2021, quando a parcela de endividados estava em 67,5%, a alta no indicador foi de 10,2 pontos percentuais. "Cada vez estamos tendo um maior número de endividados", afirmou a economista Izis Ferreira, da CNC.

Poder de compra

O cartão de crédito continua sendo o tipo de dívida mais comum entre os consumidores. Foi a única modalidade com aumento em abril, alcançando 88,8% de famílias com dívidas. Segundo a economista, a inflação alta e o encolhimento no poder de compra fizeram os brasileiros recorrerem ao cartão de crédito para tentar manter o nível de consumo. "A inflação alta leva as pessoas a usar o crédito para recomposição da renda. O endividamento no cartão de crédito vem crescendo entre os consumidores de todos os níveis de rendimento. A modalidade do crédito é a preferida dos brasileiros e nunca tinha tido uma alta tão expressiva", observou Izis Ferreira.

A segunda modalidade de crédito mais utilizada pelos brasileiros são os carnês de loja, cuja proporção, entretanto, não se compara à dos cartões de crédito. "O pessoal gasta mais no cartão de crédito porque é um dos poucos recursos disponíveis para o consumidor que já está endividado", avalia o economista-chefe da JF Trust, José Eduardo Velho. Segundo ele, com a inflação em dois dígitos, é difícil que os brasileiros saiam rápido da situação de endividamento e inadimplência.

Apartamento

A analista de sistemas Daniela Borges, de 51 anos, disse que teve que refinanciar o apartamento onde mora para quitar dívidas do cartão de crédito. "Eu tive que parcelar o cartão de crédito porque o salário não dava para pagar as faturas. Peguei empréstimo no banco, mas a dívida ficou tão alta que precisei refinanciar o apartamento em que moro para pagar o cartão e o empréstimo", relatou.

A vendedora autônoma Suzana Francisca, de 56 anos, também está endividada com o cartão de crédito. "Eu contava com o pagamento do INSS, mas tive um problema para receber o benefício e precisei negociar todos os cartões de crédito aos quais estou devendo. Eu mexo com vendas, então, compro as mercadorias sempre no crédito para revender", afirmou.

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