A pandemia do novo coronavírus trouxe nova realidade nas atividades urbanas. Menos pessoas na rua, menos gente circulando e interminável caos em diversas atividades econômicas. Algumas à beira do colapso, como as empresas de transporte público. O setor está agonizando. Levantamento realizado pelas empresas de ônibus do DF revelou redução média da demanda de 70% em relação à observada antes do início da crise sanitária.
O Distrito Federal segue nessa média e, hoje, opera com 100% da frota para dar segurança aos passageiros enquanto observa de mãos atadas a queda de 70% na demanda. Os 2.700 ônibus estão rodando com taxa de ocupação média de 33%, mas os custos operacionais continuam os mesmos com combustível, pessoal, manutenção, peças e acessórios, aluguel e amortização da frota. Entre março e junho, o faturamento do setor chegou perto dos 60% do custo operacional, sem contar impostos. Uma matemática impossível de ficar em pé.
Nessa toada, as empresas estão com dificuldades para pagar a própria operação e sofrem para manter em dia o salário dos mais de 12 mil colaboradores. Essa realidade esbarra: 1 – na Constituição, afinal ela determina que o transporte público é serviço essencial e precisa ser prestado e ofertado a toda a população; 2 – nos trabalhadores que não podem cumprir a quarentena à risca e precisam sair para trabalhar. O transporte público, com ou sem quarentena, é fundamental para que o grupo de pessoas que trabalham em setores essenciais consiga chegar ao local de trabalho. Estamos falando de enfermeiros, médicos, policiais, bombeiros, entre outros.
Afinal, existem ações possíveis para garantir a plena continuidade desse serviço, tendo em vista a situação periclitante das empresas? A resposta é sim. Se houver aliança do poder público, das empresas e da sociedade, é viável que o colapso seja evitado. Gestores públicos estão reduzindo a oferta do serviço e reorganizando o sistema de modo que possamos ter serviço prestado com mais segurança, menos ocupação e planejamento sanitário que garanta a higienização dos carros, estações e terminais — este último já está sendo feito em Brasília.
Entra aí outra questão de fundo que é a grande responsável pela situação catastrófica em que se encontram as empresas de transporte público no Brasil. Para se manter, o transporte público depende basicamente da receita com a venda de passagens. É o usuário do serviço quem paga pela operação. É assim em quase toda a América Latina. Por aqui, praticamente não existe subsídio para que o sistema funcione plenamente e com qualidade. Na Europa, o sistema é subsidiado e é por isso que sempre ouvimos coisas como “nossa, como o transporte público na Europa é de qualidade, queria que no Brasil fosse assim”.
Não existe transporte público de qualidade sem subsídio. Não existe transporte público de qualidade quando a tarifa paga pelos usuários é a fonte que garante a prestação do serviço. E, quando passamos por momentos singulares como o de uma pandemia, o sistema não aguenta porque ocorre, como está ocorrendo, queda na demanda de passageiros pagantes. Entre março e junho de 2019, os ônibus do DF transportaram 107,4 milhões de passageiros. No mesmo período deste ano, foram 46,7 milhões.
Acaba virando bola de neve. Cai o número de passageiros pagantes, caem os recursos para custear o serviço. Como pagar toda a estrutura sem recursos? E, quanto mais demora a busca de solução, mais risco corremos de que o serviço pare de ser prestado. É o caos absoluto. A pandemia trouxe quebradeira em empresas, desemprego e prejudicou milhares de pessoas. Sem transporte público, as pessoas e a sociedade em geral ficaram mais prejudicadas. É hora de resolução e pragmatismo para resolver a questão que está prestes a acabar em tragédia.
* Presidente da Associação das Empresas de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (Dfmob)
** Diretor-executivo da Associação das Empresas de Transporte e Mobilidade do Distrito Federal (Dfmob)
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