Jimmy Sánchez ressente-se de não ter aproveitado a repercussão do acidente para obter algum dinheiro e realizar o sonho da casa própria. Hoje, vive com 20 familiares em Copiapó, norte do Chile. Desiludido com o governo chileno, pede ajuda de brasileiros para ter um teto com a esposa e as filhas. Jose Ojeda sente dores ao caminhar devido à neuropatia diabética, agravada pela baixa ingestão calórica durante os 69 dias preso na mina San José. Mario Sepúlveda foca-se na construção de um centro de reabilitação para autistas e, ainda, se vê às voltas com a angústia e os pesadelos. Há exatamente 10 anos, 33 mineradores chilenos viveram o medo constante da morte, enfrentaram o desafio da convivência em situações extremas e apegaram-se à fé.
O Correio conversou com cinco deles. As entrevistas, feitas entre sábado e segunda-feira, ensinaram-me um pouco sobre esperança, fé (não propriamente em uma entidade divina ou em uma religião) e resiliência.
Sim, resiliência. Imagine passar 69 dias confinado a quase 700m de profundidade, impossibilitado de sair por uma grande rocha que bloqueou-lhe a passagem. Durante quase 1.700 horas, você se vê forçado a conviver com os seus piores medos e a tentar afastar a desesperança. Dias de escuridão e de silêncio absoluto. O pavor do abandono, de não ser encontrado e, depois, de o resgate ser malsucedido. A todo o momento, o receio ante a possibilidade de a mina inteira sofrer um colapso e de enterrá-lo vivo.
Dez anos depois, é possível aprendermos muito com os “heróis do Atacama”, como são chamados os 33 sobreviventes. Principalmente em tempos de pandemia do novo coronavírus. Alguns de nós não suportamos a ideia de ficarmos presos no conforto e no aconchego de nossos lares, ainda que a luz do sol entre todos os dias pelas nossas janelas. Alguns de nós preferimos nos expor ao perigo e correr um risco desnecessário, desprezando o uso de máscara ou participando de festas e de aglomerações, como se a vida seguisse seu curso normal. Ao contrário dos 33 mineradores, que se apoiaram na solidariedade como questão de sobrevivência, muitos de nós somos mesquinhos, egoístas e pouco nos importamos com o risco de infectarmos alguém.
Assim como as vidas de Jimmy, Jose e Mario mudaram para sempre, as nossas rotinas também serão afetadas por um bom tempo. Quem sabe para sempre. Seremos obrigados a conviver com o “novo normal”, no qual teremos de seguir algumas restrições sociais. Talvez tenhamos de carregar marcas psicológicas ante quase 150 dias de confinamento. Podemos aprender com eles e com os 30 companheiros sobre superação e sobre a ressignificação de nossas vidas. A nos importar mais com o próximo.
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