O desafio no saneamento básico

Presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc)

LUIZ ANTÔNIO FRANÇA
postado em 08/08/2020 14:33 / atualizado em 08/08/2020 14:43
Um país com esgoto a céu aberto perde potencial turístico, deixa de criar empregos e negligencia a saúde do povo -  (crédito: Minervino Junior/CB/D.A Press)
Um país com esgoto a céu aberto perde potencial turístico, deixa de criar empregos e negligencia a saúde do povo - (crédito: Minervino Junior/CB/D.A Press)

Temos um país rico em recursos e potencialidades, mas robusto, também, em suas mazelas. Os problemas se acumulam na infraestrutura, nos déficits em questões essenciais à qualidade de vida e na garantia de direitos universais. É essa a fotografia do Brasil em educação, acesso à moradia, segurança pública, saúde e saneamento básico. Este último foi alvo do marco legal aprovado pelo Congresso Nacional, que incluiu, após anos de discussão, o setor privado como parte da solução. É medida acertada e urgente para corrigir distorções.

Há estimativas apontando que, pelo menos, 100 milhões de brasileiros não contam com coleta e tratamento de esgoto. A falta de acesso à água potável impacta 35 milhões. De acordo com a Agência Nacional das Águas (ANA), apenas 43% da população é atendida por rede coletora e estação de tratamento de esgotos; 12%, por fossa séptica. Já 18% têm esgoto coletado, mas não tratado. Enquanto 27% não têm coleta nem tratamento de esgoto.

Os efeitos nocivos da falta de cobertura de serviço tão básico se veem todos os dias na vida dos brasileiros. O Instituto Trata Brasil mostrou que o Brasil registrou 233.880 internações hospitalares por doenças causadas pela precariedade de saneamento básico em 2018. Naquele ano, 2.180 morreram em decorrência de complicações de saúde causadas pelo contato com esgoto.

A situação agravou-se com a pandemia da covid-19. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) confirmaram que o novo coronavírus amplia as chances de proliferação em locais com saneamento precário. É o caso do distrito de Anhanguera, na zona norte da capital paulista, onde 52,5% das mortes por covid-19 são de pessoas com menos de 65 anos. Trata-se da cidade mais rica do país e de um dos bairros com mais pessoas morando às margens de córregos e esgoto a céu aberto.

Esses números são vergonhosos e uma afronta à Constituição Federal de 1988, que assegura como direito a universalização no acesso ao saneamento básico e à água potável. Direito reforçado pela Lei nº 11.445/2007, que compreende, ainda, os serviços de infraestrutura, drenagem e limpeza urbanas, manejos de resíduos sólidos e de águas pluviais.

É fato que verificamos avanços nos últimos anos com investimentos responsáveis por gerar 140 mil postos de trabalho em obras de saneamento e oferta de água, segundo o Instituto Trata Brasil. Mas estamos longe de frear o impacto negativo da ausência desses serviços na saúde e na educação de milhões de pessoas.

Assim como não há motivo para nos orgulharmos desse espelho social, não temos o direito de nos acomodar como sociedade. Um país com esgoto a céu aberto perde potencial turístico, deixa de criar empregos e negligencia a saúde do povo.

Sugestões para corrigirmos tais falhas foram listadas em estudo elaborado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). As principais são: garantir a atratividade a concessões públicas; melhorar planos de saneamento e normas de regulação; assegurar condições para a sustentabilidade econômico-financeira da prestação dos serviços; dotar as agências reguladoras de autonomia financeira, capacidade técnica e independência decisória; e capacitar os agentes do setor em regulação.

O novo marco regulatório do saneamento básico chega com o espírito sugerido pelo BID e a Abes. O Brasil ganhou, assim, mecanismo para seguir o caminho trilhado por países desenvolvidos, com responsabilidade e confiança para investimentos privados. A tendência é de que a regulamentação para atuação de entes privados robusteça em anos o atendimento de saneamento e água tratada, como ocorreu com os serviços de telecomunicações. Há duas décadas, conseguir uma linha telefônica era luxo para poucos brasileiros. Hoje é banal. Temos internet de qualidade, telefonia celular em larga escala e discutimos a nova fronteira representada pela tecnologia 5G.

Acredito que, no saneamento, ocorrerá o mesmo. O potencial projetado é de até R$ 600 bilhões em investimentos, conforme a XP Investimentos. Montante que criará milhares de empregos e, o mais importante, melhorará a vida dos brasileiros.

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