Opinião: é hora de reabrir as escolas?

O desejo de salvar o ano escolar brasileiro soma-se à necessidade de muitos pais de, ao retornar ao trabalho presencial, ter onde deixar os filhos. Mas será o retorno imediato a melhor solução?

Sibele Negromonte
postado em 08/08/2020 14:54 / atualizado em 08/08/2020 14:56
A retomada escolar requer uma série de restrições, como distanciamento entre as carteiras, uso obrigatório de máscara e nenhum contato físico -  (crédito: Colégio Objetivo/Divulgação)
A retomada escolar requer uma série de restrições, como distanciamento entre as carteiras, uso obrigatório de máscara e nenhum contato físico - (crédito: Colégio Objetivo/Divulgação)

“Não façam o que fizemos.” Assim —em recente entrevista ao jornal O Globo — alertou o cientista Eli Waxman, da equipe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, sobre a experiência do país de retomar as aulas presenciais, em meio à pandemia. Ao constatar que, em 17 de maio, Israel teve apenas 10 novos casos, as autoridades deram sinal verde para a retomada das atividades nas escolas.

O resultado foi desastroso. Em poucos dias, alguns casos de infecção espalharam-se entre alunos, professores e familiares. Autoridades relataram ao site The Daily Beast que esse pico de casos deveu-se à retomada abrupta das atividades. Dos 1.400 israelenses diagnosticados com covid-19 em julho, 657 (47%) foram infectados nas escolas.

Em um posicionamento oposto, o Quênia cancelou o ano escolar, que só deve recomeçar em 2021. As aulas foram interrompidas em março e passaram a ser transmitidas por acesso remoto. Mas, logo as desigualdades sociais, como o baixo acesso à internet, sobressaíram-se. Um panorama que lembra a rede pública do Brasil.

A pressão que levou à reabertura em Israel parece se repetir no Brasil. Há registros de muitas demissões nas escolas e de níveis altíssimos de inadimplência na rede particular. O desejo de salvar o ano escolar brasileiro soma-se à necessidade de muitos pais de, ao retornar ao trabalho presencial, ter onde deixar os filhos. Mas será o retorno imediato a melhor solução?

Somente ontem, o Distrito Federal registrou 1.903 novos casos e 30 mortes. Esse dilema justifica o embate judicial sobre a retomada das aulas. Pais, professores e funcionários das escolas, gestores da saúde e da educação, empresários, autoridades políticas — essas e tantas outras partes interessadas enfrentam um impasse.

Qualquer medida precisa levar em conta o coletivo, mais que o individual. Os números parecem indicar que crianças e adolescentes têm baixo índice de contaminação, porém, possíveis complicações sérias da doença para esse grupo demográfico ainda são investigadas. Qualquer que seja o caso, parece haver comprovação de que esses jovens são vetores do vírus.

A retomada escolar requer uma série de restrições, como distanciamento entre as carteiras, uso obrigatório de máscara e nenhum contato físico. Será que não é pedir demais para crianças que estão ansiosas para abraçar os colegas?

Esse e outros questionamentos não podem ser esquecidos em meio a um tema tão polêmico quanto delicado. O que espero é apenas bom senso das autoridades e do Judiciário. Que assim seja!

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