Visão do Correio

100 mil mortos: o que fazer?

Correio Braziliense
postado em 10/08/2020 22:16 / atualizado em 10/08/2020 22:16

Números redondos causam impacto e, por isso, chamam a atenção. Quando se chega a eles, aproveita-se a oportunidade para acirrar a divulgação, promover debates e lançar campanhas aptas a ajudar a atingir objetivos nacionais, regionais ou referentes a comunidades específicas.

No sábado, o Brasil bateu a marca de 100 mil mortos por covid-19. Foi um choque. Também foi um choque chegar a 10 mil, 20 mil, 50 mil óbitos. É perda de vidas, muitas das quais evitáveis. Nas covas, além de cadáveres, enterram-se projetos, histórias, promessas ceifadas.

Familiar e nacional, o luto deixa recado claro. Conhecido há sete meses, o vírus não escolhe país, clima, etnia ou classe social. O mundo aproxima-se de 20 milhões de contaminados e 750 mil mortos. Nações que, com medidas rígidas, pensaram ter vencido o inimigo, enfrentam novo ataque

Vietnã e Austrália, que pareciam ter a situação sob controle, enfrentam o ressurgimento de casos. A China, em cujo território foi detectado o novo coronavírus, teve de aprender o comportamento do Sars-Cov-2 ao mesmo tempo que ele devorava adultos e crianças. O êxito foi apenas aparente. Novas vítimas engrossam as estatísticas.

O Brasil, cuja extensão territorial impôs diferentes etapas no enfrentamento da infecção, vive drama experimentado por outros países. Unidades da Federação que abrem a economia veem os casos crescerem, o que as obriga a voltar atrás. O vaivém, longe de constituir exceção, é regra.

No doloroso processo, não há de inventar a roda. A roda já foi inventada. Enquanto o mundo não contar com vacina ou medicamento eficaz, impõe-se observar as cautelas que evitam a disseminação do vírus: o distanciamento social, o uso de máscara e a higiene pessoal e do ambiente.

A Nova Zelândia, considerada exemplo no combate à doença e um dos primeiros países a anunciar o fim de novos contágios domésticos, comemorou número redondo — 100 dias sem transmissão. Apesar do sucesso, porém, a primeira-ministra alertou a população para continuar com os cuidados redobrados.

Mais razão tem o Brasil, que registra estabilidade em patamar elevado, de prevenir em vez de remediar. A colaboração dos brasileiros é essencial. Aglomerações em praias, bares e bailes funks, como se viu no fim de semana, têm de ser reprimidos. Os meios de comunicação devem manter a vigilância. As autoridades precisam adotar as medidas para a redução de danos. O melhor remédio, como dizem os especialistas, é não se contagiar.

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Chamem Sujismundo e Zé Gotinha!

Muito se vê e ouve falar sobre os casos da covid-19 no Brasil, que ultrapassaram a trágica marca das 100 mil mortes pela doença. Os números são gigantescos: mais de 3 milhões de pessoas infectadas e passa dos 2 milhões o total de pacientes recuperados, além de centenas de milhares em investigação. A todo momento, temos notícias sobre a evolução da doença, estudos e desenvolvimento de vacinas. É indiscutível que a ciência é a saída tanto para a detecção quanto para o tratamento e, no futuro — breve, espero — , a imunização.

Sabe-se que os danos causados pela pandemia vão além das perdas de vidas insubstituíveis. Em todos os setores, principalmente na economia do país, estados, municípios e, mais dolorosamente, nas finanças pessoais. Independentemente das discussões — políticas ou não — sobre as medidas tomadas por governantes no enfrentamento do novo coronavírus e sobre as responsabilidades de cada um, é necessário ter em mente que a suspensão do isolamento social, reabertura de comércios e serviços e demais atividades não significam que o vírus se foi.

Desde os primeiros registros de casos, em fevereiro deste ano, estamos carentes de uma campanha massiva para a mudança de hábitos da população. Os meios de comunicação divulgam reportagens sobre medidas sanitárias de proteção, há cartazes afixados nos estabelecimentos com recomendações para o uso de álcool em gel, lavagem das mãos, distanciamento, etc. Mas, é preciso mais.

Quem lembra do Sujismundo? Os cinquentões e sessentões, com certeza. E o Zé Gotinha? Este, é mais recente. Personagens de peças publicitárias do governo, eles se tornaram símbolos. Criado por Ruy Perotti em 1972 (era governo militar, ok, mas vamos falar de publicidade), o boneco porcalhão, mal-educado, que jogava lixo na rua, protagonizou uma campanha para melhorar os hábitos de higiene e limpeza da população. Caiu no gosto do povo e até virou adjetivo.

Da mesma forma, em 1986, o artista plástico Darlan Rosa, mineiro radicado em Brasília, criou o Zé Gotinha, um bonequinho simpático, cujo objetivo era incentivar a vacinação contra a poliomielite. A figura engraçada atraiu crianças e facilitou a vida dos pais e responsáveis e ressaltou a importância da prevenção, além de tornar mais leve a tarefa de receber a gotinha e, nas demais campanhas, as furadinhas.

O que esses dois personagens têm em comum? O dever dos governantes de esclarecer, informar e incentivar os brasileiros de uma forma continuada, diuturnamente. “Não basta ser pai”, já dizia uma outra publicidade, “tem que participar” (Gelol, em 1984). Não basta ser governo, liberar verba, é preciso educar. Sempre. Precisamos incutir os bons hábitos: lavar as mãos, usar máscara, não tocar a face. Dessa forma, vamos poder fazer funcionar escolas, empresas, repartições públicas, comércios, etc. Até que toda a população possa ser imunizada. E além.

Os novos hábitos devem seguir pelos anos que virão, por gerações, com campanhas permanentes, dessas que ficam martelando na nossa mente, que fazem mudar atitudes, que abrem os olhos de adultos e, principalmente, das crianças. Hábitos que seguirão para o futuro. Afinal, há coisas que, dificilmente, se apagam da nossa lembrança. Por falar nisso, há uma outra campanha: mesmo quem não usa sutiã, sabe que o primeiro a gente nunca esquece.

Sr. Redator

Cartas ao Sr. Redator devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome e endereço completo, fotocópia de identidade e telefone para contato. E-mail: sredat.df@dabr.com.br

 (crédito: kleber)
crédito: kleber

Reeleição
Os presidentes do Senado e da Câmara Federal estão deixando passar a hora de aprovar o fim da reeleição em quaisquer dos patamares da República. Aprovar a eleição de mandatos por cinco anos como foi antes da exdrúxula proposta de FHC, mediante ‘cooptação’ de deputados à época. O exemplo foi o da eleição de JK, que, em cinco anos, fez um governo não superado pelos demais presidentes reeleitos. Nossa República merece a mudança para que, quem for eleito, não passe quatro anos manobrando e corrompendo politicos para ser reeleito. Até plebiscito mostrará essa tendência contrária à reeleição. O que pensam os eleitores?
Aldo Paviani, Lago Norte


Segurança
O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a decisão liminar do ministro Edson Fachin, que restringe operações policiais em favelas durante a pandemia. As polícias Civil e Militar do RJ divulgaram uma nota conjunta em que expressam precaução com a citada medida. Ainda, de acordo com a nota, um levantamento da Polícia Civil aponta que, nos aproximadamente 60 dias da vigência da liminar de Fachin, pelo menos 10 pessoas foram mortas — incluindo dois policiais em serviço e crianças — e ao menos 13 pessoas ficaram feridas em pelo menos 50 embates entre facções criminosas no Rio. Levantamento do Secretário de Polícia Civil aponta que existem 56.620 criminosos em liberdade, portando armas de fogo de grosso calibre e trabalhando para o tráfico de drogas ou grupos milicianos em todo o Rio de Janeiro. Uma atitude desse porte do STF leva-me a imaginar como seria a atuação da mídia se citada atitude fosse do governador do Rio, Wilson Witzel? Certamente, o foco seria a corrupção. Mas, como foi o STF, prejudicados serão os policiais e os cidadãos das favelas. Acorda STF! Peço vênia!
Jeferson Fonseca de Mello, João Pessoa (PB)

 

Justiça
Que diabos de Justiça é esta do nosso país? O cara vira presidente e é preso. Vira ministro, é preso.Vira secretário de estado, é preso.Vira governador ou prefeito e é preso. O que leva ministros do STF a soltarem tais meliantes que, em comum, roubam ou roubaram o dinheiro do povo, especialmente, dos mais humildes? Um ex-presidente roubou mais de R$ 2 bilhões, segundo dizem. O secretário de Saúde do Rio de Janeiro e o de Transportes de São Paulo roubaram tanto dinheiro que as malas estavam estufadas. Mas os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) desdenham do povo e mandam soltar após um dia, ou uma semana. Esses vagabundos teriam de pagar suas penas assim como um ladrão de margarina ou galinha. A Justiça não é cega. Nós, pobres mortais, pagamos a conta, porque jamais esses ladrões devolverão tais recursos roubados destinados ao enfrentamento da covid-19 e dos cofres públicos. Juízo, senhores ministros. O país não pode ficar a mercê de vossas canetas pura e simplesmente.
José Monte Aragão, Sobradinho


Temos hoje 14 supremos: as onze monocracias, as duas turmas e o esvaziado plenário. Esse é o nosso Supremo Tribunal Federal (STF). Que se encha o plenário! É preciso controlar e baixar o grau da febre monocrática, sendo as decisões individuais de ministros, sobretudo, aquelas relativas a outros Poderes. A sociedade assistiu, novamente, mais um salto duplo twist carpado do ministro Gilmar Mendes, ao determinar monocraticamente a soltura de Alexandre Baldy, secretário de Transportes de Doria, detido pela Lava-Jato na quinta-feira, na Operação Dardanários. Horas antes, o desembargador Abel Gomes, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), tinha negado liminar para libertar o secretário. Contra isso só a institucionalidade rigorosa funcionará. Contra um autocrata, atenção, só a impessoalidade institucional extrema funcionará. Por que não dividir, em termos deliberativos, o peso de uma decisão, que versa sobre prerrogativas de outro Poder, com os pares no plenário? Qualquer que fosse o resultado, sendo mesmo controverso o debate, seria um resultado chancelado pelo colegiado. Lamentavelmente, a Suprema Corte tem decidido na maioria das vezes, por meio do viés da benevolência monocrática!
Renato Mendes Prestes, Águas Clara


Pan demia
O Ministério da Saúde, nas mãos de um general sem qualquer formação nesste campo do conhecimento, tenta ponderar o imponderável. Mais de 100 mil mortes, superando o tamanho da tragédia em países com grau de desenvolvimento bem abaixo do Brasil, fogem a qualquer lógica. O estímulo à população para ir às ruas, ignorar a orientação de médicos e infectologistas, reconhecidos mundialmente; a indicação de uso de cloroquina, um medicamento ineficaz para impedir os danos do novo coronavírus; o exibicionismo do presidente de ir às ruas sem máscara, abrançando pessoas, somaram para esse trágico momento. O Ministério da Saúde tornou-se nulidade no papel de coordenar as ações ao lado de estados e municípios. O relaxamento da quarentena deu-se sem qualquer estratégia. O governo federal ficou alheio ao drama cada vez mais profundo, causado pela crise sanitária. Seu foco é a economia, pois o fracasso dela, que se tornou uma realidade, certo de que, sem ela, não haverá reeleição. Pouco importa quem morra ou deixe de morrer. O comportamento do Poder público federal está escrito na história do país, assim como essas mortes pesarão no colo do inquilino do Palácio do Planalto.
Euzébio Queiroz, Octogonal

Desabafo

Pode até não mudar a situação, mas altera sua disposição


Ministério da Saúde adverte: a culpa pelo número de mortos durante a pandemia é “interina” do Bolsonaro.
Vital Ramos de Vasconcelos Júnior — Jardim Botânico


O Congresso decretou luto de quatro dias pelos mais de 100 mortos pela covid-19. Isso não adianta nada. Os parlamentares deveriam agir contra o desgoverno na saúde pública.
Humberto Vieira — Asa Norte


Legado militar: em 1968, passeata dos cem mil. Em 2020, cem mil mortos por covid-19.
Eduardo Pereira — Jardim Botânico

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