Com base em falácias e sofismas, mentiras sobre o serviço público têm sido divulgadas pelos que se intitulam salvadores do país. A propósito, é importante diferenciar custo de investimento no que concerne à mobilização e manutenção da força de trabalho por parte de qualquer organização. No caso, o Estado brasileiro. É sabido que organizações prestadoras de serviços têm na força de trabalho um fator de produção vital para o sucesso.
Salvo quando automação e cibernética minimizam em termos quantitativos o contingente, a aplicação de recursos financeiros no fator é a de maior vulto. Mesmo nesses casos, é de grande importância dado o valor que pessoas altamente qualificadas alcançam no mercado de trabalho. Salários altos, condições diferenciadas de trabalho, benefícios extras são usados para atrair e reter o capital humano das organizações. Não são privilégios. Significam a justa contrapartida pela entrega de competências nobres ao empreendimento.
No serviço público ocorre da mesma forma. O percentual representado pelo dispêndio com a força de trabalho, que podemos chamar de capital humano do Estado, é naturalmente expressivo, constituindo-se assim o maior compromisso financeiro no bojo da destinação dos recursos disponíveis. Afinal, o que é um Estado senão uma fantástica organização de prestação de serviços? Serviços ao público. Nada mais natural que se invista para manter o capital humano bem dimensionado e motivado e garantir a missão de prestar serviços públicos de qualidade aos cidadãos, seus clientes, e, em última hipótese, os acionistas do Estado.
Como tratar os recursos financeiros alocados em orçamento à manutenção da força de trabalho como mero custo a ser minimizado, cortado e aviltado? Não é custo, é investimento. E dos mais nobres. É essencial. Trata-se do maior aliado do sucesso organizacional. Se bem tratado, respeitado e desenvolvido, claro. Se um dia o servidor puder ser substituído por robôs, como será tratado o dispêndio para mantê-los à disposição do Estado? Como custo ou como investimento em máquinas, equipamentos e tecnologia? Robôs ainda não são empáticos. Só humanos de qualidade podem prestar serviços ao público. Não se deve tratar o ser humano com menor importância do que máquinas.
Organizações de porte que prestam serviços recrutam, selecionam e procuram manter o que encontram de melhor no mercado em termos de força de trabalho para, com isso, garantir o sucesso. Nossos governantes, ao contrário, não poupam esforços em demonizar, desqualificar e, consequentemente, desmotivar a força de trabalho do Estado. Em lugar de se aplicarem em gerir bem a coisa pública, cuidam de amesquinhar o aparato estatal. Se há problema de produtividade, qualidade, acomodação, isso não acontece com a maioria dos servidores.
A convivência com a pandemia da covid-19 o tem demonstrado. O problema do serviço público é muito mais de gestão do que de formação da força de trabalho — patrimonialismo, desvio de finalidade, leniência, corrupção. Os gestores, principalmente de nível estratégico, que deveriam orientar a gestão do Estado, em grande número não são servidores públicos concursados. São membros de grupos políticos que, a cada eleição, aparelham e procuram dominar as estruturas do serviço público, nem sempre para servir a população, mas para servir aos interesses patrimoniais ou ideológicos que de fato representam.
Dessa parcela, os políticos não abrem mão. Não aceitam conviver com um Estado operado por servidores públicos profissionais, com autoestima elevada, que se sintam seguros na função pública para policiar as tentativas de desmandos de orientação ideológica ou corrupta (às vezes, as duas coisas). Daí cunham os chavões descabidos e mal-intencionados de privilegiados, parasitas, inimigos, preguiçosos e outros tantos para encurralar os servidores, amesquinhá-los e mobilizar a opinião pública contra eles a fim de poder destroçar o capital humano do Estado e assim dominá-lo para usar a seu serviço, não da sociedade. Dispêndio com capital humano é investimento, não custo a ser minimizado ou desperdício de recursos.
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