Assustadora a conclusão de levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) — uma das instituições brasileiras de maior credibilidade — relativo ao perigo representado pelo açodamento na volta às aulas ensaiada por alguns estados e municípios. Pelas projeções da entidade, o retorno dos estudantes às salas de aula pode se transformar em verdadeira catástrofe, caso não seja feito de forma adequada e seguindo, estritamente, as orientações das autoridades sanitárias.
Pelos cálculos otimistas, se 10% dos eventuais contaminados pela covid-19 precisarem de cuidados intensivos, a volta às aulas presenciais poderia provocar o aumento de mais de 900 mil infectados internados em unidades de tratamento intensivo (UTIs) e de mais 35 mil mortes no país — hoje, os óbitos ultrapassam os 100 mil. Além da dor dos familiares e amigos dos mortos, o sistema de saúde poderia entrar em colapso em praticamente todo o Brasil, com consequências imprevisíveis para o controle da pandemia do novo coronavírus.
De acordo com o estudo da Fiocruz, atualmente, o país tem uma população de 9,2 milhões de idosos e adultos com doenças cardíacas, pulmonares e diabetes — os mais vulneráveis ao vírus —, sendo que boa parte divide o teto com crianças e adolescentes em idade escolar. Esses estudantes de 3 a 17 anos poderiam se transformar em agentes de propagação da pandemia, ao levar o novo coronavírus para dentro de casa, com grande chance de contagiar seus parentes mais velhos.
O levantamento mostra que em São Paulo são 2 milhões de pessoas com comorbidades convivendo com estudantes; em Minas, cerca de 1 milhão; no Rio de Janeiro, 600 mil; na Bahia, 570 mil; e em Pernambuco, 540 mil. Técnicos da instituição enfatizam que o impacto do retorno das aulas presenciais seria muito maior se fossem considerados como potenciais transmissores do vírus os profissionais envolvidos no trabalho das escolas, como professores e os ligados a serviços de alimentação e transporte.
Nota técnica da Fiocruz questiona a discussão sobre a retomada das atividades escolares quando ainda não há uma queda acentuada de mortos na maioria dos estados. Indaga, também, como pensar em reativar os estabelecimentos de ensino justamente no momento da desmobilização de recursos da saúde e desmonte de hospitais de campanha. Defende que o recomeço das aulas presenciais siga protocolo baseado no número de casos da doença, de óbitos e das características da população das cidades e de seu entorno.
As projeções da Fiocruz demonstram que todo o cuidado é pouco nessa hora em que estudantes começam a voltar às aulas, como no Amazonas. São Paulo projeta o reinício para outubro e o Rio briga na Justiça para a retomada imediata. Os governantes não devem desprezar os riscos reais que correm, pois podem ter de pagar preço muito alto mais na frente, caso se confirme o perigo representado pelo recomeço das atividades escolares para a parcela da população mais desprotegida.
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