Para mim, soa como uma ameaça a intenção de retomar as aulas presenciais em plena pandemia do novo coronavírus. A verdade é que não há protocolo de segurança que garanta a proteção das crianças. Se para nós, adultos, já é difícil ficar o tempo todo atento às medidas de prevenção, imagine para meninas e meninos no convívio com os colegas na escola! Não vai funcionar.
Em março, comentei num texto, aqui, como era alentador o fato de crianças serem menos afetadas pela covid-19, tanto em número de casos quanto em gravidade. Mas, de lá para cá, a ciência avançou no conhecimento sobre o vírus, embora ainda não saibamos tudo sobre o potencial ofensivo dele.
Já verificaram-se, por exemplo, danos em rins, coração, intestino, sistema vascular e cérebro, mesmo em quem teve sintomas leves da doença. Os cientistas ainda tentam descobrir se as sequelas são temporárias ou permanentes.
Especialistas também se debruçam sobre uma nova e grave inflamação que tem sido associada ao vírus e acomete, predominantemente, crianças e adolescentes, de 7 meses a 16 anos: a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica. A SIM-P pode ocorrer durante o período da infecção pela covid-19 ou semanas após a cura.
Entre os sintomas da SIM-P estão febre persistente, pressão baixa, conjuntivite, manchas no corpo, diarreia, dor abdominal, náuseas, vômitos, comprometimento de múltiplos órgãos, inflamação nas mãos, nariz ou pés, além de outros. A complicação mais grave é aneurisma na artéria coronária. Se não houver tratamento adequado, pode levar à morte.
A Organização Mundial da Saúde fez um alerta global para a SIM-P, pois foram registrados casos na Europa e nas Américas. O Ministério da Saúde diz que monitora a situação. De acordo com a pasta, até o fim de julho, houve registros de 71 casos no país, com três mortes. "Cabe ressaltar que essas ocorrências foram raras até o momento, frente ao grande número de casos com boa evolução da doença entre crianças e adolescentes", destacou o ministério.
No DF, de 29 de julho a 11 de agosto, quatro casos foram notificados à Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde. As crianças tinham até 12 anos, necessitaram de internação, mas já receberam alta.
Em resumo, o novo coronavírus já provou, de forma dramática, que não é uma "gripezinha". No Brasil, ultrapassamos os 100 mil mortos, com média diária de óbitos na casa de 1 mil. Além disso, ainda estão surgindo novas informações sobre a agressividade do vírus. Assim, pelo conjunto de ameaças e pela falta de uma vacina, creio que mandar crianças de volta às escolas, neste momento, é colocar em risco a vida delas.
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