Exageros da quarentena?

''Desde que a quarentena começou, há cinco meses, aumentou consideravelmente o tempo gasto com redes sociais, como o WhatsApp, como mostram os primeiros estudos sobre o tema. E as consequências de ficarmos tanto tempo conectado ainda vão aparecer. Pode apostar''

Roberto Fonseca
postado em 21/08/2020 04:00

Dois anos depois da última Copa do Mundo, uma mobilização sem precedentes dos brasileiros em torno de um único jogador de futebol tomou conta das redes sociais. Sem possibilidade de público nos estádios e com o isolamento social batendo à porta, as plataformas digitais tornaram-se ainda mais uma válvula de escape para os torcedores. E um velho astro brasileiro vem provocando uma onda que terá seu último capítulo no domingo. Falo de Neymar e a final da Liga dos Campeões da Europa.


Desde a partida contra o Atalanta pelas quartas de final do torneio mais importante do velho continente, na quarta-feira da semana passada, o atleta é o protagonista de uma campanha ao estilo do “Pra frente, Brasil” em época de Copa. Fotos de Neymar usando moicano, penteado que marcou o inicio da carreira do jogador, tomaram conta de todas as redes sociais, principalmente o Twitter, como uma tentativa de mandar energias positivas para o jogador. Deu “certo”. E o PSG de Neymar disputará o título de campeão da Europa contra o Bayern.


Muitos viram um exagero na mobilização em torno do atleta, que ganhou a alcunha de “Adulto Ney”, em referência aos seus 28 anos, tendo em vista que, na última Copa do Mundo, era chamado de “menino”. Não penso assim, afinal, o jogador é um dos principais nomes mundiais do esporte e centraliza as atenções. Então, é mais do que normal surgirem campanhas em torno do ídolo de muitos. O que me chama a atenção, no entanto, é justamente não existir o meio-termo. Ou você é Neymar Futebol Clube ou não. E é cobrado a ter uma posição.


Tal situação ocorreu de forma semelhante na reta final do programa Big Brother Brasil 20, em abril. A polarização em torno dos participantes era tamanha, que mesmo pessoas que nunca se interessaram pelo reality show entraram nos debates. O que estava em jogo eram temas além da partida, como racismo, violência doméstica, relacionamentos abusivos, machismo, entre outros males tão comuns na nossa sociedade. E o que se viam eram fortes embates.


Citei os dois casos porque ambos ocorreram em momento de isolamento social, em que uma expressiva parcela da população passou a ficar mais tempo em casa, sem convívio pessoal com amigos e parentes. E o smartphone mostrou-se a principal ferramenta de manutenção de contato com o mundo externo, mesmo que virtual. Desde que a quarentena começou, há cinco meses, aumentou consideravelmente o tempo gasto com redes sociais, como o WhatsApp, como mostram os primeiros estudos sobre o tema. E as consequências de ficarmos tanto tempo conectado ainda vão aparecer. Pode apostar.

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