Entender que não temos o controle sobre nada talvez seja a lição mais importante desta pandemia. A compreensão do quão pequenos somos diante do imponderável talvez ajude a deixar menos latentes as dores diversas. A maior grandeza, agora, é reconhecer as fragilidades, aceitar as condições adversas impostas, como o distanciamento social, e lutar contra os sentimentos ruins. Reinventar as próprias estruturas e buscar meios para superar tristezas, saudades e dificuldades de todo tipo, como as financeiras, são as competências desta época de crise. Todo dia é preciso acordar e dizer a si mesmo: “Saia do chão, bora, levanta!”.
Como dizer a uma mãe de 102 anos, lúcida, ativa e leitora assídua de jornal que a covid-19 levou seu amado filho? Esperar que as coisas cheguem até ela de forma mais segura, aconchegante e leve é o que nos resta. De que forma dar a notícia para uma legião de fãs que o corona calou a voz de um queridíssimo locutor? Como comunicar a morte para irmãos e amigos de um homem saudável, de apenas 60 anos, tragado em apenas cinco dias?
Falar de finitude durante seis meses é uma tarefa hercúlea e dolorosa mesmo para jornalistas acostumados a noticiar tragédias. Por aqui, temos tentado contrapor tantas histórias tristes com a trajetória de luta, abnegação e esforço pela vida. Levar e compartilhar todo tipo de informação a respeito da pandemia da covid-19, inclusive boas práticas e exemplos positivos de quem lida com a crise, tem sido uma forma bem-sucedida de aliviar o sofrimento. Afinal, estamos narrando a história de nosso tempo. E ela é complexa, capaz de mudar nossas estruturas, nossa forma de viver a vida ou de encarar o mundo. Será preciso olhar para tudo, e sobretudo para o outro, de maneira mais humana e empática.
Somos testemunhas e porta-vozes de um período trágico da nossa história. Na série No front, falamos daqueles que estão na linha de frente do combate ao coronavírus: médicos, enfermeiros, bombeiros, terceirizados da limpeza, etc. Também contamos a iniciativa linda de um grupo da Universidade de Brasília, em parceria com o Correio, para escrever cartas a profissionais de saúde. Mostramos, numa série sobre mobilidade, os impactos que o vírus traz para o transporte urbano. Em outra série (Força, Brasília!), falamos de empreendedores que se reinventaram para sobreviver a uma guerra sanitária sem precedentes.
Enquanto alguns tentam colocar os meios de comunicação na berlinda para livrar a própria pele e ocultar a própria irresponsabilidade e o descaso diante da vida de tantos, estamos aqui narrando o dia a dia de um mundo assolado por um vírus voraz, capaz de destruir até nossa capacidade de sonhar com dias melhores. Esperamos, em breve, dar as melhores notícias dessa época: a descoberta de uma vacina eficaz e acessível a todos. Até lá, viveremos com a incerteza e com alguma esperança.
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