Suzana Guerra, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alerta o Ministério da Economia que, por falta de verba, o instituto está ameaçado de não cumprir as metas de pesquisa para este ano. O que parece supérfluo aos olhos de alguns é essencial para a realização do trabalho, como locação de veículos, diárias, passagens, e até água, luz e telefone dos postos de coleta das informações. Esse instituto que o governo cogitou, inclusive, fechar, esvaziando seu quadro e suas funções, respondeu que pesquisas, como a Pnad Contínua e outras do gênero, visam levantar informações cruciais sobre os trabalhadores do Brasil, inclusive aqueles sem vínculo formal de trabalho, o que é o caso de muitos brasileiros neste país.
Para esses cientistas sociais, pesquisas desse tipo estão entre as mais avançadas do mundo e, por isso, seguem recomendações dos organismos de cooperação internacional, como a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Para todos aqueles que lidam com esse tipo de pesquisa científica e vital a qualquer país moderno, as declarações do governo, pondo em dúvida a seriedade das pesquisas, foram consideradas “perigosas” e contra uma metodologia sabidamente científica e apolítica.
Para esses profissionais ameaçados pelo governo, é necessário que a atual administração evite, o quanto puder, interferir nos trabalhos de pesquisas, até para não as contaminar com pinceladas coloridas a favor desse e de outros governantes. Para esses pesquisadores, os trabalhos desenvolvidos pelo IBGE, por sua tipicidade e importância, devem obedecer, apenas, a critérios científicos, livres da interferência de políticos, que acabam contaminando os resultados finais. “Uma das premissas necessárias para esse tipo de trabalho é a independência das estatísticas e autonomia dos pesquisadores, até por uma questão de credibilidade científica, ressaltaram os técnicos da instituição.
É preciso ressaltar, como todos puderam verificar durante esse último ano e meio, que o atual governo tem feito críticas não apenas à atuação do IBGE, mas se voltado contra, também, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fiocruz, em pleno período de pandemia, quando mais era necessário o apoio de todos em pesquisas científicas. Ao acusar o IBGE e outros institutos de longa tradição técnica de estarem aparelhados pelo que chama de comunistas ou vermelhinhos, o atual presidente tem deixado claro para muitos que não confia na ciência, preferindo seguir seus próprios instintos, que acredita serem os mais “acertados”.
Este ano, as pesquisas do IBGE seriam feitas nos meses de agosto a setembro, com um questionário básico a ser aplicado em mais de 71 milhões de lares em todo o país, mas alegando falta de recursos, o governo se pronunciou pelo adiamento das pesquisas, ao mesmo tempo em que remaneja esses escassos recursos para outras áreas, digamos, mais prioritárias para ele e seu grupo, como é o caso do Ministério da Defesa, ligado à ala militar que apoia o governo.
Para as pessoas envolvidas diretamente nessa polêmica sobre o adiamento, ou não, do censo do IBGE, economizar uns poucos recursos com a aplicação da pesquisa pode trazer ganhos ilusórios e momentâneos ao governo, mas, seguramente, provocará um atraso e uma diminuição muito sensível na área de políticas públicas, com grande prejuízo para o futuro dos brasileiros. Muitos cientistas desse país adiantaram que o censo deve ser tratado sempre como prioridade permanente. Inclusive, muitos defendem abertamente e sem medo de represálias que o trabalho, como o realizado por esse e outros institutos de pesquisa, seja considerado como uma política de Estado, não de governos e de ideologias de plantão, e não deveria ser colocado em segundo plano, ao sabor de questões orçamentárias e outras variáveis, pois trata-se de um trabalho de interesse do Estado e da nação, não do governo.
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A frase que foi pronunciada
“A ciência é o melhor instrumento
para medir nossa ignorância.”
Intelectual
» Leia no Blog do Ari Cunha o artigo do professor Flávio R. Kothe sobre a ideia que permeia a iniciativa de o governo federal em pensar na taxação do livro em mais 12% de impostos.
Debate
» Ainda é possível acompanhar as discussões sobre a privatização dos Correios no Youtube, no canal da Auditoria Cidadã. Veja o link no Blog do Ari Cunha.
Pdot
» Prorrogado o prazo para a participação nas discussões do Pdot, Comitê de Gestão Participativa do Plano Diretor do Ordenamento Territorial do DF. Inscrições até 20 de setembro. Informações no Blog do Ari Cunha.
História de Brasília
Já que há o interesse de vários ministérios em efetivarem a mudança imediatamente para Brasília, e alegam a falta de moradia, há uma sugestão.Várias empresas particulares construíram em Brasília e estão com seus prédios prontos ou por acabar. Não encontram compradores, que bem poderia ser o governo. Há casos em que os vendedores entregariam prédios prontos, pelo preço de custo da construção atual.Com esta aquisição, diversos ministérios poderiam muito bem fazer maior número de funcionários para o Distrito Federal.
(Publicado em 14/1/1962)