Aprendizes sem chance
Em meio à alvissareira notícia de que o país abriu mais de 131 mil vagas de empregos com carteira assinada em julho deste ano, o fato negativo ficou escondida no emaranhado de números divulgados, semana passada, pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, por meio do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Trata-se do fechamento, também no mês passado, de mais de 18 mil postos de trabalho para aprendizes entre 14 e 24 anos em todo o país, porta de entrada da juventude para o mercado de trabalho.
O temor de especialistas é de que essa tendência se prolongue por meses, até que a economia se recupere do tombo provocado pela pandemia do novo coronavírus. Isso significa o fim do sonho de milhares de jovens e adolescentes que buscam um lugar ao sol no disputado mercado de trabalho. Sem essa oportunidade, muitos deles não terão acesso ao primeiro emprego, fundamental para sua inserção no meio produtivo, além de proporcionar ajuda financeira extra para suas famílias, que contam com esse reforço no orçamento mensal para poder honrar seus compromissos.
Uma questão que preocupa muito os profissionais responsáveis pela primeira formação profissional desses jovens e adolescentes é o abandono das escolas, com a falta de oportunidades dadas pelos programas de aprendizado para a juventude. Com o encolhimento das vagas, as pessoas nessa faixa etária são obrigadas a buscar o mercado informal para a manutenção da renda familiar, já que, geralmente, elas pertencem a um grupo de baixa renda. Para os envolvidos com o aprendizado, esse tipo de emprego deveria ser o último a ser fechado em momentos de crise como o atual, por causa de seu impacto social.
De acordo com estudo elaborado pela Kairós Desenvolvimento Social, empresa especializada em monitoramento de políticas públicas e diagnóstico social, desde o início da pandemia, 77,6 mil jovens do Programa Menor Aprendiz deixaram de ser contratados pelas empresas participantes. Os especialistas queixam-se de que o governo não se preocupou em fazer uma legislação específica voltada aos aprendizes para o enfrentamento da crise causada pela covid-19.
Eles foram enquadrados nas mesmas regras das medidas de flexibilização do emprego decretadas no início da pandemia. Segundo Elvis Cesar Bonassa, coordenador do estudo, as autoridades negligenciaram o problema ao não dar a devida atenção e a proteção necessária a esse grupo. O mesmo aconteceu com as empresas que não cumpriram seu papel social em garantir esses postos de trabalho. Mesmo com a conjuntura desfavorável, ainda há tempo para que o governo dê a devida importância a esses cidadãos brasileiros que merecem um tratamento diferenciado para sua entrada no mercado.
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