Visto, lido e ouvido

Desde 1960

Circe Cunha (interina)
postado em 25/08/2020 20:56

Hieróglifos e logogramas


No século 3 a.C, o matemático, físico e astrônomo grego Arquimedes chegou à conclusão de que bastaria um ponto de apoio e uma alavanca para mover todo o mundo de lugar. Explicava o poder do instrumento, colocado em um ponto específico, de multiplicar a força humana. O famoso estudioso afirmava que era pela ferramenta da ciência ser possível entender o mundo como ele é e, portanto, adaptá-lo às nossas necessidades.

Talvez aí, nesse ponto de apoio, capaz de mover o mundo, que esteja a razão que sempre fez com que os poderosos, ao longo dos milênios, temessem tanto as ciências e os homens a ela devotados. Livres pensadores, capazes de colocar uma interrogação sobre os destinos da sociedade, nunca foram bem-vindos. Pelo contrário, foram sempre perseguidos, presos, banidos, queimados. No entanto, por mais que sejam apedrejados e renegados, a humanidade deles não pode prescindir, sob pena de tornar sua evolução natural uma espiral descendente, longe da luz e do saber.

Não por outra razão, quando se ouve alguma autoridade falar em banir o estudo de filosofia das escolas, substituindo-a por outras disciplinas “mais práticas e produtivas”, o que, com certeza, esconde-se por trás de uma declaração dessa natureza é uma tentativa de impedir que os indivíduos compreendam e julguem o que acontece à sua volta.

Num mundo onde os sábios estão longe do poder, fechados na escuridão, qualquer um que porte uma lanterna a iluminar caminhos será considerado um inimigo a ser calado e posto fora de cena. A filosofia, como uma espécie de mãe de todas as ciências, não pode, numa sociedade que se quer moderna e esclarecida, ser simplesmente banida dos currículos escolares. Seria como retirar o alicerce e a razão primeira de todas as outras infinitas ciências, arrancando-lhes a alma e a consciência.

O papel que cabe aos verdadeiros filósofos é buscar um ponto de apoio para, com a alavanca da curiosidade pela verdade, explicar e mover o mundo em toda a sua complexidade. Somente a partir do entendimento do que está à frente é que se pode dar o passo seguinte. A defesa da filosofia e dos filósofos, como avatares da humanidade, vem a propósito do momento atual, em que grande parte da humanidade se viu, de surpresa, paralisada e suspensa no ar, à espera de um segundo passo, sem saber para onde e como ir adiante depois de uma pandemia.

É em momentos especiais como esse que necessitamos dos filósofos e dos homens do saber, tão necessários como a água. É em momentos assim, quando o caos parece ter assumido o controle da situação, dominando a cena, que precisamos buscar quem realmente compreende a situação e, principalmente, o que se seguirá após a primeira fase de superação do vírus.

Somente quando a maré da crise planetária recuar é que poderemos ver os estragos deixados para trás, nos empregos, na economia, na política e na vida em sociedade. O que se tem no momento é o congelamento da humanidade por longos seis meses e sem perspectivas à frente de um retorno ao que era. Justamente, esse é um dos pontos levantados por uma série de pensadores: haverá um retorno ao que era antes? Ou toda essa experiência traumática apenas serviu para fechar, para sempre, antigos caminhos?

Tirada abruptamente de cena, a humanidade estressada pela possibilidade iminente de morte pode vislumbrar que não está no poder do Estado ou do dinheiro ou do capitalismo a solução para a crise atual. Estamos, na visão de alguns pensadores com suas alavancas do saber, diante de um vírus semiótico, ou seja, de algo invisível que não entendemos, mas que precisa ser decifrado, como uma Pedra de Roseta, para nossa própria continuidade.

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A frase que foi pronunciada

“Penso, logo existo.”

René Descartes, filósofo, físico e matemático francês.

Ar livre

» Passeio pelo parque Olhos d’Água é sempre uma experiência agradável. Falta só uma ordem para limpeza no local.

Luz aos invisíveis

» Milhares de trabalhadores anônimos responsáveis pelo sucesso de eventos turísticos, culturais e empresariais elaboraram um manifesto para garantir investimentos na Lei Cultura Viva, cumprimento da Lei Aldir Blanc, e sugerir um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) das novas profissões da cadeia produtiva da economia criativa, que precisam entrar no rol do Código Brasileiro de Ocupações. Além do reconhecimento, a classe reivindica a revisão no prazo para pagamento de impostos, auxílio emergencial e linha de crédito em bancos públicos e privados. O documento na íntegra está no Blog do Ari Cunha.

Hemocentro

» Estoque de sangue baixo no Hemocentro. A informação está circulando pelo WhatsApp convidando voluntários. Para acelerar o atendimento, disque 160, opção 2, opção 2 novamente e, depois, opção 1. Ouça até o fim a gravação e agende a doação. Veja no Blog do Ari Cunha.

História de Brasília

Muito embora tenha sido no Rio, estou sabendo de uma briga séria (de murros) que se verificou no Dasp. Os detalhes são sem confirmação, mas publicaremos, proximamente, detalhes sobre o assunto.
(Publicado em 14/1/1962)

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