Os jogadores de basquete da liga mais famosa do mundo estão fazendo história. Em meio à onda de protestos nos Estados Unidos por conta dos sete tiros disparados pela polícia contra as costas de Jacob Blake, um homem negro de 29 anos, os atletas paralisaram as partidas do playoff da NBA. Exemplo que acabou seguido pela liga feminina da modalidade e, também, pela de beisebol masculina. É, sem dúvida, uma decisão drástica, que joga o foco sobre a situação centenária dos negros norte-americanos.
Como não poderia deixar de ser, o movimento dividiu opiniões. Alguns criticaram. Levantaram a bandeira de que, depois de tanto esforço para o retorno dos jogos da NBA — por conta da pandemia do novo coronavírus as partidas foram interrompidas por mais de quatro meses e passaram a ser disputadas numa bolha em Orlando, sem público —, a paralisação não faz sentido. Já uma grande parcela saiu em defesa dos jogadores. Veem uma causa justa, que somente atitudes mais severas poderão promover mudanças na sociedade.
Fico ao lado dessa segunda turma. É exatamente por isso que os atletas resolveram parar. Eles sabem a força que têm e pensam no todo em vez de apenas no microcosmo do basquete. Um engajamento que começou na época do assassinato de George Floyd, em maio deste ano, e se amplificou agora. Os playoffs não serão cancelados, a liga movimenta bilhões de dólares, mas só de interromper as disputas por um tempo para dar o grito social já merece todos os aplausos.
Atletas como Muhammad Ali, John Carlos e Tommie Smith tornaram-se heróis nacionais pelas posturas e ações, ao mesmo tempo que acabaram vilipendiados e odiados à época por se posicionarem contra temas que eram considerados tabus. Sem dúvida, o racismo estrutural será um dos assuntos principais da campanha eleitoral norte-americana, que, após a realização das convenções republicana e democrata, a partir de agora começará para valer. Mas, os jogadores da NBA adiantaram-se e o colocaram no centro das discussões.
Ao mesmo tempo que acompanho o movimento lá fora, fico pensando como seria se algo semelhante fosse realizado no Brasil. Jogadores de futebol, por exemplo, lançaram nesta década o Bom Senso F.C., mas o foco era por mudanças no calendário, mais tempo de pré-temporada e fair play financeiro. Seria possível interromper partidas do Campeonato Brasileiro em nome do combate ao racismo? Improvável, não é? Vejo os atletas da NBA em um outro patamar de atuação social. Sem contar que a polarização existente por aqui levaria a discussão para outros rumos, não é verdade?
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