São casos diferentes com impactos midiáticos semelhantes. Há 25 anos, o modesto meia belga Jean-Marc Bosman revolucionava o futebol ao levar até as últimas consequências o desejo de liberdade. Inconformado com a proposta do RFC Liège de renovar o contrato dele com 75% de redução salarial, o jogador rejeitou a oferta e manifestou o desejo de trocar o time pelo Dunkerque, da segunda divisão francesa. Porém, o Liège recusava-se a liberá-lo. Em 1990, Bosman comprou briga com o clube, a Federação Belga e a Uefa pelo direito de alforria.
A novela acabou cinco anos depois. Em 1995, o Tribunal de Justiça da União Europeia deu ganho de causa a Jean-Marc Bosman em nome da livre circulação de trabalhadores no continente. A Lei Bosman facilitou a transferência de jogadores em fim de contrato e pôs fim à cota de estrangeiros europeus em cada clube — três em média à época. Desde então, os times viraram seleções globais. Exemplo: o Bayern de Munique usou 15 jogadores na vitória por 1 x 0 sobre o PSG na decisão deste ano da Champions League: 7 nascidos na Alemanha e 8 gringos. No ano da vitória de Bosman, o Ajax conquistou a Liga dos Campeões com 10 holandeses e 3 estrangeiros.
A causa de Messi é outra. O argentino tem contrato até 30 de junho de 2021. Multa rescisória de R$ 4,6 bilhões. Porém, está descontente. Se Bosman revolucionou o futebol, pense uma decisão favorável ao direito de ir e vir do jogador eleito seis vezes melhor do mundo? A insatisfação do gênio pode dar origem à Lei Messi. Ou você imagina algum tribunal impedindo o craque de 33 anos de jogar enquanto as partes não chegarem a um acordo? Messi quebrou a internet na última terça. O nome dele foi mais procurado no Google do que a palavra pandemia.
Lei Bosman e possível Lei Messi à parte, vejo cartolas e técnicos brasileiros tripudiando até slogan “mais que um clube” do Barcelona. Outros dizem que caiu o mito. Há quem vibre com o abalo da veneração pelo clube catalão. Acontece que o nosso futebol é uma bagunça.
Aí vai um dado para resumir a nossa vergonha. Messi estreou como jogador profissional do Barcelona, em 16 de outubro de 2004. De lá para cá, o camisa 10 teve sete técnicos diferentes: Frank Rijkaard, Pep Guardiola, Tito Vilanova, Gerardo Martino, Luis Enrique, Ernesto Valverde e Quique Setién. Média de um a cada dois anos e três meses.
Sabe quantos treinadores foram empregados em cada um dos dois times mais populares do Brasil na era Messi-Barcelona? São 30 nomes diferentes no Flamengo e 17 no Corinthians. Descartei interinos. Vamos para a sexta rodada do Brasileirão. Quatro técnicos caíram: Eduardo Barroca, Ney Franco, Daniel Paulista e Dorival Júnior. Há memes com Messi vestindo a camisa de vários times do país. Se está ruim para ele no Barcelona, imagine na bagunça que é isso aqui!
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