No ano em que os protestos contra o racismo nos Estados Unidos são os maiores em meio século — eles se espalharam por todo o mundo, inclusive o Brasil —, fato inédito e surpreendente aconteceu nos últimos dias. O movimento antirracista entrou nas quadras de esporte americanas e o boicote aos campeonatos nacionais e locais alastram-se como rastilho de pólvora. A erupção de atos condenando o racismo culminou com times se negando a disputar as partidas, depois da agressão injustificada contra o negro Jacob Blake na pequena cidade de Kenosha (170 mil habitantes), no estado de Wisconsin, no Centro-Oeste dos EUA. Ele foi baleado com sete tiros à queima-roupa pelas costas por policiais brancos, em frente aos três filhos.
A condenação ao racismo promovido por atletas de várias modalidades esportivas iniciou-se depois da morte do também negro George Floyd, no fim de maio, em Minneapolis, quando os protestos se espalharam por todo o país. O movimento antirracista nos meios esportivos teve seu ato mais contundente com a atitude dos atletas do desconhecido time de basquete Milwaukee Bucks se negaram, semana passada, a entrar na quadra para uma disputa da NBA, milionária competição desse esporte, que é uma das paixões nacionais nos Estados Unidos. Outros times aderiram e se negaram a jogar.
O posicionamento dos jogadores de basquete estendeu-se para o futebol americano, o beisebol e o tênis, entre outras modalidades. A agressão a Blake foi o estopim para a decisão dos atletas engajados na luta contra o racismo. O movimento já vinha crescendo desde o caso George Floyd. Na retomada da temporada disputada apenas em um complexo da Disney, em Orlando, por causa da pandemia do novo coronavírus, a NBA inovou ao estampar mensagens antirracistas e a favor da justiça social em seus espaços mais nobres: as camisas dos atletas e a quadra dos jogos.
Além do esporte, o racismo permeia os debates nos mais variados setores da sociedade americana, e não poderia deixar de ser um dos principais embates na campanha eleitoral para a Casa Branca, sede do governo dos EUA. O presidente republicano, Donald Trump, candidato à reeleição, investe contra os protestos, ignorando as questões de fundo do racismo existente em seu país.
Trump classifica os manifestantes como baderneiros anarquistas e não apresenta propostas concretas para conter os protestos, a não ser o uso da força, tendo despachado para a cidade de Kenosha efetivos da Guarda Nacional. Já o candidato democrata Joe Biden pede para que seja feita justiça e os policiais agressores, punidos. Em meio a uma das eleições presidenciais mais polarizadas dos últimos tempos, o sensato seria a apresentação de projetos reais de enfrentamento ao racismo, ferida que não cicatriza no gigante do norte.
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