Há de ser leve

''Falências, mortes, corrupção, falta de civilidade e de solidariedade, desvios de verbas, florestas queimando... Como há de ser leve? Como ousar querer um pouco de leveza e humor no cotidiano?''

Ana Dubeux
postado em 30/08/2020 07:00

Existem pessoas que cometem o “absurdo” sortilégio de perseguir um pouco de leveza e riso em tempos tão funestos, como este da pandemia. Sou uma delas. Sinto muito; não vou mudar. Sem isso, sou como Brasília na seca. Mas confesso que a aridez não me cai tão bem quanto na capital federal, bonita com seus galhos secos, a poeira vermelha, o céu estonteante e os ipês... Ah, os ipês...

Dia desses levei um pito de um leitor-seguidor por postar fotos do generoso banho de luz amarela que essas árvores proporcionam. Foi no instagram do @correiobraziliense, lugar que este e quiçá outros cidadãos devem julgar o perfil sacrossanto da senhora má notícia. Com todo respeito, informo que não é.

O Correio Braziliense e os brasilienses têm uma relação de amor intenso com os ipês. As árvores-símbolo da capital estão mais belas do que nunca, e um passeio pela cidade pode ajudar a abrir uma pausa no seu cotidiano, engessado pelo confinamento. Eu até questionei o leitor perguntando que tipo de postagem tocaria o coração dele e a resposta foi: “Meu coração é músculo...” Entendi.

Os humores da pandemia são os mais variáveis possíveis, não, necessariamente, para o bem. Às vezes frios; outros, agressivos e rudes. De fato, com tanta coisa ruim acontecendo, não há muito espaço para gargalhada e festa. Até os meus amigos mais sorridentes andam deprimidos, cabisbaixos e pouco esperançosos.

Falências, mortes, corrupção, falta de civilidade e de solidariedade, desvios de verbas, florestas queimando... Como há de ser leve? Como ousar querer um pouco de leveza e humor no cotidiano? Eu explico: trata-se de estratégia de sobrevivência. E aí cada um tem a sua. Meditação, reza, remédio controlado, luta incansável, trabalho extenuante para não pensar em mais nada, música alta, bons livros.

Não se pode simplesmente estar alheio ao mundo e aos problemas, mas não se deve perder de vista a beleza de estar vivo. Estar em contato com a natureza, ao ar livre, talvez seja uma das formas mais fáceis de acessar outros lugares — mais amorosos, afetuosos, genuínos, tranquilos, com menos ódio. Não tem receita pronta. Sigo na tentativa e erro.

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