CHADWICK BOSEMAN

Wakanda forever

''A missão do ator era furar bolhas. Era colocar em protagonismo o povo negro em histórias que realmente tivessem um significado''

Adriana Izel
postado em 01/09/2020 04:00 / atualizado em 01/09/2020 08:23
 (crédito: Matt Winkelmeyer / AFP)
(crédito: Matt Winkelmeyer / AFP)

A morte do ator Chadwick Boseman, na última sexta-feira, aos 43 anos, no que deveria ser o auge da carreira, fez com que muitos olhassem para a trajetória do astro. Ele ficou marcado pelo papel do Rei T’Challa, o Pantera Negra. Foi o rosto, o corpo, a força e a serenidade de Chadwick que moldaram a figura do herói, o primeiro negro a ganhar um filme solo com protagonismo na Marvel.


O sucesso de Pantera Negra, na época do lançamento do longa que foi indicado ao Oscar (outro feito inédito), lembra o fenômeno recente de Black is king, de Beyoncé. Assim como fez a diva pop,Pantera Negra mostrou, pela primeira vez, a representação dos negros de forma heroica e empoderada, com beleza e uma história com passado e futuro. Futuro esse que, vez ou outra, é negado aos negros. Basta ver as estatísticas. Aqui no Brasil mesmo o Atlas da Violência mais recente revela que o assassinato de negros cresceu 11,5% em 10 anos.


Apesar de muita gente só conhecer Chadwick Boseman pelo papel de T’Challa, todos os outros trabalhos do ator foram galgados no que ele chamou de propósito em 2018 durante discurso aos formandos da Howard University, nos Estados Unidos, onde também havia se formado anos antes. “Quando eu desafiei o sistema que nos renega a vítimas e estereótipos, com nenhuma história do passado, esperanças e talentos. Quando eu questionei isso, um caminho diferente se abriu para mim. O caminho para o meu destino”, disse, na época, relembrando questionamentos que fez sobre o passado de um personagem em uma produção e, depois, acabou sendo demitido.


A missão do ator era furar bolhas. Era colocar em protagonismo o povo negro em histórias que realmente tivessem um significado. Fez isso com T’Challa, mas também ao representar outras figuras negras marcantes nos cinemas: o cantor James Brown no filme homônimo de 2014; o atleta de beisebol Jackie Robinson em 42 — A história de uma lenda; e Thurgood Marshall, o juiz afro-americano retratado em Marshall.


Antes de morrer, interpretou um personagem morto que aparecia em flashbacks do filme Destacamento blood. Não se sabe o que ele pensou quando aceitou esse papel. Mas é daquelas coisas que parecem premonitórias. Ele ainda deixou uma produção inédita, o longa A voz suprema do blues, em que atuou ao lado de Viola Davis, num projeto produzido por Denzel Washington, que, há alguns anos, financiou os estudos do ator, mesmo sem saber.


Chadwick seguiu o caminho a que se propôs. Com certeza, em vida, faria muito mais. Mas o legado que ele deixa é imenso e não será apagado. E como o próprio Pantera Negra nos ensinou “a morte não é o fim, ela é como um ponto de impulso. Se você esticar os braços será levado até os campos verdes, onde poderá correr para sempre”. Wakanda forever!

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