Visão do Correio: Povo contra a corrupção

''Os integrantes da Lava-Jato têm outro motivo para comemorar, além do apoio maciço da população revelado pela pesquisa do instituto paranaense''

Sob ataques constantes de forças políticas e econômicas atingidas por suas investidas, a força-tarefa da Operação Lava-Jato tem o apoio de 78,1% da população, de acordo com pesquisa divulgada anteontem. Este é o percentual da sociedade que defende a continuidade dos trabalhos da Justiça, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal na maior investigação de casos de corrupção no país, que levou para a cadeia desde ex-presidentes da República e da Câmara dos Deputados até empresários de algumas das maiores companhias brasileiras.

O Instituto Paraná Pesquisas ouviu 2.260 pessoas em 242 municípios de 26 estados, além do Distrito Federal, numa ampla amostragem da intolerância do cidadão com o mal que corrói os alicerces do sistema democrático. Na avaliação de 30,1% dos entrevistados, o atual governo melhorou o clima para a condução da Lava-Jato; 35,4% consideram que a conjuntura para os trabalhos da força-tarefa é o mesmo dos governos anteriores; e 27,9% acham que os apoiadores do Planalto manobram para piorar o cenário para o prosseguimento da operação.

Os integrantes da Lava-Jato têm outro motivo para comemorar, além do apoio maciço da população revelado pela pesquisa do instituto paranaense. O ministro Celso de Mello, decano do Superior Tribunal Federal (STF), suspendeu o exame de dois processos contra o procurador Deltan Dallagnol no Conselho Nacional do Ministério Público (CNPM), sendo que um deles poderia afastá-lo da coordenação da operação de combate à corrupção em Curitiba, no Paraná, berço da Lava-Jato.

O processo capaz de tirar Dallagnol da condução das investigações é de autoria da senadora Kátia Abreu (PP-TO), que acusou o procurador de irregularidades na criação de uma fundação para administrar R$ 2,5 bilhões recuperados da Petrobras — espoliada pelos corruptos de plantão em governos passados — e na realização de palestras. O que chama a atenção é que o relator da ação é um conselheiro indicado pelo Senado para o CNPM e que tem ligações com o senador Renan Calheiros, investigado pela Lava-Jato e crítico contumaz de Dallagnol.

Celso de Mello, em sua decisão, ressaltou a importância do procurador para o êxito da Lava-Jato e destacou que o processo violou o direito à ampla defesa. O ministro foi taxativo: “Não se pode simplesmente buscar silenciar, institucionalmente, o procurador que coordena, em Curitiba, a maior operação de combate à corrupção da história do país”. São palavras do magistrado mais antigo do STF que confirmam o sentimento do povo brasileiro, aferido pela pesquisa, totalmente contra os atos dos corruptos e corruptores.