Os árabes, como prova do peso da palavra, repetem que “o silêncio é a língua de Deus”. De outra forma, os japoneses comungavam o mesmo entendimento. A voz do imperador era tão importante que o povo não a podia ouvir. Daí porque os americanos, vencedores da Segunda Guerra Mundial, obrigaram o monarca a comunicar a derrota à população.
Em 1º de janeiro de 1946, os súditos sentiram a tragédia em dobro. Além da morte de 3 milhões de conterrâneos e do pavor da explosão de duas bombas atômicas, descobriram que Hiroito não era deus. Falava. E falou a primeira vez para anunciar humilhações e calamidades. Muitos se suicidaram.
O fato vem à lembrança quando o assunto versa sobre a relevância do pronunciamento de altas autoridades. Entre elas, o presidente da República. O que elas dizem reverbera. Ganha força superior à das demais pessoas. E, reproduzido pelos meios de comunicação e pelas mídias sociais, atravessa paredes, limites e fronteiras.
“Ninguém pode obrigar ninguém a se vacinar”, respondeu o presidente à apoiadora que lhe pediu que fosse proibida a vacina contra o novo coronavírus. Ele disse a verdade em tempos normais. Ninguém pode puxar o cidadão pela orelha e o levar ao centro de saúde para que se imunize. Mas, para enfrentar a pandemia, a Lei nº 13.979, alterada pela Lei nº 14.053, ambas de 2020, autoriza a imposição.
Trata-se de medida excepcional, mas oportuna na luta contra a crise sanitária. Tal como ocorreu há um século, o Brasil trava batalha contra os negativistas. Os opositores da ciência responsabilizam gotinhas e picadas por patologias como o autismo. Amplamente divulgadas, apesar de carecerem de consistência, as teses ganham adeptos no mundo inteiro.
Aqui, a vacinação é política de Estado, não de governo. As campanhas de imunização, independentemente do partido que ostenta a faixa presidencial, se mantêm década após década. Tornaram-se referência da OMS. O resultado foi erradicação de doenças, melhora da qualidade de vida e redução da taxa de mortalidade.
A busca da vacina contra a covid-19 mobiliza cientistas e capitais dos cinco continentes. Nada, no momento, é mais importante do que vencer a pandemia, que, no mundo, matou quase 900 mil pessoas, derrubou o PIB, fechou escolas, extinguiu postos de trabalho, criou clima de incerteza inédito nos tempos modernos. Vacinar é preciso. E é urgente.
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