Em busca da paz no sul do Cáucaso

ARMAN AKOPIAN
postado em 04/09/2020 22:04 / atualizado em 04/09/2020 22:04

Na edição de 25 de agosto, o Correio Braziliense publicou o artigo O conflito entre o Azerbaijão e a Armênia, assinado por Elkhan Polukhov. Nele, o autor distorce os fatos sobre a recente escalada na fronteira entre Armênia e Azerbaijão e coloca a culpa na Armênia. A situação, na realidade, é completamente oposta.

Como aconteceu muitas vezes desde o acordo de cessar-fogo de 1994, o Azerbaijão cedeu novamente à tentação de testar as armas pelas quais bilhões de dólares foram pagos nas últimas décadas, bem como testar a capacidade do exército armênio de resistir a ataque. Os testes falharam, assim como a maciça ofensiva azeri em abril de 2016, que causou a morte deplorável e desnecessária de jovens soldados de ambos os lados.

O Azerbaijão é o país que não aderiu ao apelo do secretário-geral da ONU por uma trégua durante a pandemia, mas acusa a Armênia, que foi um dos primeiros países a apoiar o apelo, de violação à trégua. Aliás, o Azerbaijão rejeita constantemente as propostas armênias de estabelecer mecanismos de investigação de violação de cessar-fogo ao longo da fronteira e retirar os atiradores de ambos os lados.

Na sua agenda política, a Armênia não tem problemas que exijam o uso da força militar contra outro país. Acreditamos que o conflito em torno de Nagorno-Karabakh não se resolve por meio das armas, mas por meios pacíficos — negociações, com o objetivo de chegar a acordo aceitável para os povos da Armênia, Azerbaijão e Nagorno-Karabakh.

O Azerbaijão age de uma maneira diferente. Usa o discurso de ódio contra a Armênia e os armênios, recorre à retórica militar extrema e belicista e faz reivindicações territoriais constantes contra a Armênia, e sua capital, em particular.

Na esteira da recente escalada, chegou a anunciar que os mísseis azeris podem atingir a usina nuclear armênia. Trata-se de ameaça sem precedentes de terrorismo nuclear perpetrado pelo Estado.

É preciso acrescentar ao contexto o caso de Ramil Safarov, oficial do exército azeri que assassinou com machadadas um colega armênio adormecido durante um curso de inglês em Budapeste. Depois de receber prisão perpétua na Hungria, ele foi extraditado para o Azerbaijão, onde, em meio a agitação popular, o presidente Ilham Aliyev o proclamou verdadeiro herói e patriota.

No artigo, afirma-se que vários países e organizações internacionais condenaram a “agressão armênia”. Não há registro do fato. Será que existe? Tampouco procede a acusação de que a Armênia promove limpezas étnicas.

Vale lembrar que as primeiras limpezas na região foram realizadas pelo Azerbaijão na região de Nakhidjevan (província armênia transferida para o Azerbaijão por Stalin, o que resultou no expurgo total da população e destruição completa do patrimônio cristão, incluindo um cemitério medieval com exclusivas lápides esculpidas). O início do conflito de Nagorno-Karabakh foi marcado por massacres armênios em grande escala na cidade azeri de Sumgait, em 1988, e na capital Baku, em 1990.

As comunidades armênias, em vários países, incluindo o Brasil, expressaram apoio à sua pátria histórica durante um período de julgamento e, em alguns casos, tiveram que ficar ombro a ombro na frente de missões diplomáticas armênias para protegê-las dos enfurecidos fundamentalistas azeris. Eles fizeram isso de maneira pacífica e civilizada.

Os brasileiros de origem armênia estão perfeitamente integrados ao Brasil e contribuem para o progresso da sua pátria. Acusá-los de “crimes inaceitáveis”, como figura no artigo, é injusto.

A tentativa de envolver o Brasil em um conflito a milhares de quilômetros de distância e sabotar as relações do Brasil com um terceiro país, incluindo instalação de outdoors com mensagens políticas duvidosas, obviamente, contradiz a ética diplomática.

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