Visto, lido e ouvido

Brasília: as asas que ninguém vê

Desde 1960 Circe Cunha (interina) // circecunha.df@dabr.com.br
postado em 08/09/2020 22:19

Uma Brasília, convenientemente invisível, vem, há alguns anos, sendo erguida ao redor de grandes áreas em torno do Plano Piloto. O processo que, até um tempo atrás, vinha ocorrendo de modo lento e quase imperceptível para a maioria da população da capital, ganhou, nos últimos meses de pandemia, uma feição difícil de não ser notada
Trata-se aqui da grande quantidade de famílias de catadores de recicláveis de todo o tipo vivendo à beira das principais vias de ligação da cidade, em condições claramente subumanas. São milhares de crianças, adultos e idosos abrigados sob lonas de plástico ou cobertores velhos, cercados de lixo, mosquitos e sujeira por todos os lados.
O contraste com a capital, que se acredita ser o lar dos mais ricos habitantes do país, é absoluto. A Secretaria de Desenvolvimento Social, nesta questão específica, enxuga gelo. O problema parece ter adquirido uma amplitude e uma complexidade muito acima do que pode oferecer uma simples secretaria. Pelo que se pode verificar in loco nesses vários acampamentos espalhados por toda a cidade, o Governo do Distrito Federal, apesar do empenho que se vê, não está dando conta do problema.
Com a pandemia e com a proximidade do Natal, esse quadro desolador tende a aumentar, com famílias inteiras vindo de todos os arredores da capital em busca de auxílio. É certo que os índices de pobreza têm aumentado sensivelmente em todo o país, tanto por conta da quarentena, que forçou o fechamento de inúmeros estabelecimentos, quanto por conta da própria crise econômica que vinha se arrastando desde 2015. A associação de uma pandemia nunca vista antes, impondo uma recessão econômica que já havia sido instalada em nosso país, com dezenas de milhões de desempregados, resultou num número assustador de pessoas vivendo no limbo da pobreza.
Parte da população, quer famílias individuais, quer grupos e associações, faz o que pode para minorar o problema, distribuindo alimentos e roupas e até remédios em vários desses acampamentos. Aquela outra Brasília que se abriga e trabalha em palácios, mansões e em requintados e portentosos edifícios federais não conhece essa realidade ou finge não conhecer.
Estivessem essas famílias de catadores assentados na Praça dos Três Poderes ou na Península dos Ministros, exibindo toda sua miséria, que, afinal, é a mesma miséria vista em todo o país, quem sabe estariam menos invisíveis ou mais sujeitos ao amparo.
Para a conveniência dos poucos turistas que para a capital vinham, também passavam longe desse cenário de escassez. Em toda a área do Plano Piloto é difícil não andar e topar logo com pedintes em cada ponto. A essa altura, a população brasiliense percebeu que a situação de miséria nas ruas, já saiu do controle das autoridades.
Em todo o país, as cenas se repetem. São brasileiros como todos nós. Deveriam ser também portadores de uma cidadania que parece estar escrita apenas na Constituição, mas que, na realidade, nem sabem da existência de uma tal Carta Magna. E, se soubessem, de que adiantaria?


A frase que foi pronunciada

“Tudo o que acontece no universo tem uma razão de ser; um objetivo. Nós, como seres humanos, temos uma só lição na vida: seguir em frente e ter a certeza de que, apesar de, às vezes, estar no escuro, o sol vai voltar a brilhar.”

Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes,
canonizada Irmã Dulce, o anjo bom da Bahia.


Superpreços

» Quem tem o hábito de guardar notas fiscais de compras está horrorizado com os preços de produtos básicos antes e depois da pandemia. Não à toa, o nome escolhido para o local de compras tenha sido supermercados. Agora faz sentido.


Blockchain

» Muito interessante o controle das mídias. São robôs contra a inteligência humana. Algoritmos contra a criatividade. Faz lembrar os tempos de guerra onde a escrita era cifrada. Nada como a necessidade para o intelecto avançar.


Amor

» Trabalho muito interessante das psicólogas Juliana Seidl e Vera Roesler. Elas convidam pessoas com mais de 50 anos de idade a discutir o amor. As profissionais vão mediar e instigar o debate com base nas ideias dos participantes e nas reflexões de pensadores clássicos e atuais que trataram do assunto, o amor. Serão cinco encontros de duas horas com início na primeira semana de outubro. As vagas são limitadas e o link direto para a inscrição é: http://shorturl.at/mIJ34


Valeu, Alcidina!

» Recebi da amiga Alcidina Cunha Costa um vídeo com imagens de um patriota solitário andando pelas ruas com uma caixa de som no 7 de Setembro. Fazia seu desfile solitário. A verdade é qu,e quem assiste, sente o coração bater no ritmo de esperança por um Brasil melhor.


Honra ao mérito

» Por falar em pátria, foi bom ler a referência elogiosa a Antônio Aparecido Pereira da Silva emitida pela assessoria especial de planejamento do Ministério da Defesa pelos 34 anos de serviços prestados à Marinha do Brasil por ocasião da transferência para a reserva. É importante socialmente que todos os trabalhadores tenham esse reconhecimento dos superiores.

 

História de Brasília

As bancas de jornais que foram construídas não foram todas distribuídas entre os jornaleiros. O resultado é que as da fundação estão servindo de mictório público. (Publicado em 16/1/1962)

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