Consequências que virão depois
Alguém disse, tempos atrás, que as consequências representam tudo aquilo que virá depois. Num mundo paralisado por uma pandemia nunca vista e que vinha num severo processo de décadas de poluição do ar, das águas e de todo o meio ambiente, tinha que experimentar, agora, as agruras sem fim do clima agreste, cada vez mais seco, quente e hostil.
Essa é a consequência de todas as mudanças bruscas, chegando em forma do aquecimento global. O mais inquietante é que estamos mais do que irmanados nesse processo de destruição do mundo, somos, hoje, um dos maiores protagonistas do planeta no quesito desrespeito ao meio ambiente. No nosso caso, a própria agricultura, que alguns chegaram a anunciar como a grande redenção verde do país, capaz de transformar o Brasil no celeiro do mundo, teve que se transmutar, para dar conta desse projeto megalômano, chamado agronegócio, ou mais, precisamente, agrobusiness.
Com isso, o regime imposto às vastíssimas áreas que passou a ocupar foi submetido a um verdadeiro sistema de terra arrasada, em que o lucro desmedido de poucos é feito às custas da dizimação do outrora rico bioma nacional. Essas mudanças, que acabaram transformando o Cerrado num campo aberto para as commodities, vem despertando, cada vez mais, a atenção de parte da população, alarmada com o noticiário interno e externo dando conta do alto preço cobrado do meio ambiente para tornar o nosso país um campeão na produção de grãos e de proteína animal.
Ganha, cada vez mais, na consciência de muitos, a certeza de que o agronegócio e sua correlata, a agroindústria, não produz alimentos, mas apenas lucros para os grandes produtores. Uma ida ao supermercado para comprar o básico arroz com feijão reforça essa certeza de que, internamente, ficamos com os prejuízos irreversíveis ao nosso meio ambiente e os sempre altos preços dos alimentos básicos. Cotados em dólar, num tempo em que essa moeda se aproxima dos R$ 6, essas e outras chamadas commodities há muito estão longe do poder aquisitivo do brasileiro médio.
Até os países mais informados de todo esse processo de produção selvagem e feita a todo custo começam a boicotar nossos produtos nas gôndolas de seus mercados, mesmo que apresentem preços competitivos. Com o Congresso e o governo totalmente dominados pelo poder de lobby do agronegócio, não há muito o que fazer.
O pior nessa situação toda, se é que pode haver piora num sistema bruto como esse, é que nem mesmo os parques nacionais e as terras indígenas e quilombolas escapam do cerco desse gigantesco aparato multinacional de produção de grãos. Exemplo desse avanço sem limite sobre preciosas terras pode ser conferido a pouco mais de 300 quilômetros de Brasília, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
Depois de engolir metade do Cerrado com plantio de grãos e por pastagens, o agrobussiness vem cercando, literalmente, todo o parque. De Alto Paraíso até Cavalcanti, no nordeste de Goiás, o plantio de transgênicos e os campos de pastagens vão se impondo contra as árvores tortas do cerrado, queimando matas, envenenando os rios, esgotando as terras, tudo em nome de um progresso que não é mais do que o avanço da poeira, da destruição e da desertificação de áreas imensas. Só podemos lamentar que, no futuro, se é que haverá algum possível, ninguém será responsabilizado por esses crimes contra a vida.
A frase que foi pronunciada
“A Justiça é o freio da humanidade.”
Victor Cousin, filósofo, político, reformador educacional e historiador francês
Em defesa
» Mercedes Bustamante e Bráulio Dias, da UnB; Isabel Garcia Drigo, do Imafolra; Suely Araújo. do Ibama; e Edegar Rosa, do WWF-Brasil, foram convidados para participar, na Câmara dos Deputados, de discussões sobre a preservação do Cerrado. Veja o link da reunião no Blog do Ari Cunha.
Leve
» De sol a sol, recolhem os resíduos descartados pela população. Invisíveis até para as leis, que multam um braço de fora da janela do automóvel e permitem seres humanos pendurados atrás dos caminhões de lixo. Sempre com o rosto virado para o mau cheiro, correm e se penduram em hastes para que o caminhão continue a percorrer as ruas. Sem instalações ou pontos de apoio para que possam respirar, fazer uma refeição, tomar um banho. Há a promessa de que essa classe terá mais conforto para trabalhar.
História de Brasília
O ministro Franco Montoro defenderá, junto ao GTB, quinta-feira próxima, a prioridade para a transferência do ministério do Trabalho para Brasília. (Publicado em 16/1/1962)
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