Visão do Correio

Uma dose de paciência

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Correio Braziliense
postado em 12/09/2020 09:47 / atualizado em 12/09/2020 11:46
 (crédito: Divulgação/Portal Educativa MS)
(crédito: Divulgação/Portal Educativa MS)

O mundo foi surpreendido nesta semana pelo anúncio da suspensão dos testes da vacina desenvolvida em conjunto pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e a farmacêutica AstraZeneca. O motivo da suspensão teria sido o desenvolvimento, por parte de uma voluntária vacinada, de uma mielite transversa, sintoma neurológico que pode ou não estar associado ao imunizante.

Embora a notícia tenha soado como um balde de água fria sobre as expectativas mais otimistas de se alcançar uma vacina para a covid-19 o mais rapidamente possível, ela, por outro lado, diz muito sobre o que se deve esperar de um imunizante. Mais ainda, explica a razão de pesquisas envolvendo vacinas serem percebidas pela população em geral como processos tão demorados.

Em meio a uma pandemia que já atingiu quase 28 milhões de pessoas no planeta, matando mais de 900 mil, a principal razão de se buscar uma vacina é a segurança sanitária. Essa segurança, no entanto, implica em mais que conter a transmissão do novo coronavírus. É preciso garantir, também, que o imunizante não traga efeitos colaterais, que seu efeito seja duradouro e que tenha alta taxa de eficácia.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) elogiou a suspensão dos testes e informou, em nota, que “a segurança é o principal foco dos ensaios clínicos para se encontrar uma vacina” e ressaltou que suspensões temporárias de ensaios clínicos de vacinas não são “incomuns”.

A covid-19 ainda é um mistério para médicos e cientistas do mundo todo. A cada semana surgem estudos associando a infecção pelo novo coronavírus a uma série de sintomas secundários e posteriores. Mesmo as manifestações dermatológicas da doença podem variar, segundo pesquisas ainda em andamento, da urticária à necrose. Há, ainda, relatos de sintomas circulatórios, cardíacos e renais, além dos respiratórios, entre aqueles que superam a doença.

Desenvolver uma vacina é como buscar uma forma de simular a doença com o mínimo de sintomas. Dessa forma, vacinar-se contra a gripe pode significar uma febre baixa ou alguns dias de coriza, mas com a certeza de se evitar, com esse processo, uma infecção mais agressiva. Quando a doença a ser anulada, no entanto, é, ainda, pouco conhecida e traz reverberações tardias e díspares, como é o caso da covid-19, o processo requer ainda mais cuidado.

A vacina de Oxford com a AstraZeneca é uma entre nove iniciativas na fase 3 dos ensaios ou testes. A pressa por um resultado positivo e pela produção e aplicação em massa de um imunizante contra o novo coronavírus é perfeitamente compreensível. Igualmente importante, no entanto, é a transparência e a lisura de pesquisas sérias e responsáveis. Nesse sentido, os estudos ao redor do mundo, assim como as regras de distanciamento, o uso de máscaras e álcool em gel ainda exigirão de todos uma dose extra de paciência.

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