Hábito da leitura

Adriana Izel
postado em 15/09/2020 08:05
 (crédito:  Fernando Lopes/CB/D.A Press)
(crédito: Fernando Lopes/CB/D.A Press)

Aprendi a ler e a escrever em casa, com o meu pai, numa das greves da rede pública do Distrito Federal. Lembro que achei difícil. Mas não demorei a me interessar pelos livros. Neta de um escritor e afilhada de um leitor ávido, gostar de ler parecia um caminho natural. E foi. Mas a sede de leitura surgiu assim que terminei o primeiro exemplar de Harry Potter. A partir daí, já estava encantada pelo mergulho na imaginação que um livro proporciona e pela ansiedade de chegar à última página.

Por ter essa paixão pela leitura, seja de livro, seja de jornais e revistas, fico sempre surpresa quando alguém me diz não gostar de ler. Na última sexta-feira, fiquei triste ao perceber que o hábito de leitura está caindo no país. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, mostrou que, de 2015 a 2018, houve uma queda de mais de quatro milhões de leitores, em sua maioria, das classes A e B.

A pesquisa sai em meio à uma polêmica envolvendo a taxação dos livros, prevista em 12%, na proposta de reforma tributária apresentada pelo ministro Paulo Guedes ao Congresso Nacional — atualmente, os livros são isentos de impostos. Isso acarretaria no aumento do preço das obras, o que dificultaria o acesso aos mais pobres e também a margem de lucro das livrarias, que, já vivem um momento de crise. A tributação incide em todo tipo de livro, da Bíblia aos didáticos.

Por mais que o estudo mostre essa redução na leitura, também expõe que, diferentemente do que foi pensado e dito por Guedes em relação ao consumo de livros, o hábito de leitura das classes C, D e E, por mais que ainda seja menor do que nas classes A e B, foi o menos afetado. Ou seja, são as pessoas de mais baixa renda que se mantêm firmes na leitura. E são exatamente esses leitores que, caso a reforma seja aprovada com essa parte referente aos livros, os mais impactados e os que poderão, na próxima pesquisa, estar na estatística de queda.

Um país que não lê é um país que renega sua história. Os livros nos dão saber e, mais que isso, nos dão esperança de imaginar dias e narrativas melhores do que as que vivemos. Numa pandemia, então, quem não quer se perder nas páginas de um bom livro?

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação