Eu era criança. Lembro-me de admirar o céu na presença de meu avô saudoso Wilson, que partiu para outras estrelas em abril. Estávamos na fazenda e ficávamos estupefatos ao ver uma parte da nossa galáxia sobre nossas cabeças. Um caminho branco, rasgando a abóbada celestial. Imaginava quantos planetas haveria ali e mais adiante. Falávamos sobre vida extraterrestre, sobre possíveis dimensões interplanetárias que seriam acessadas por buracos negros ou fendas cósmicas. Meu avô gostava de contar uma experiência que teve lá pelo final da década de 1950. Meus avós viajavam com minha mãe, então menina, e meus tios de Goiânia para a Cidade de Goiás. Estrada de terra, sem qualquer iluminação. Numa descida, uma luz extremamente forte desceu do céu e ofuscou a visão de meu avô. Impossibilitado de dirigir e atordoado com tanta beleza, parou e desceu do carro. Viram a luz brilhando atrás de um morro. De repente, o objeto partiu em velocidade rumo ao céu, de onde veio.
Talvez inspirado nesse relato, sempre fui fascinado pelo tema. Recordo-me bem da famosa “noite dos óvnis”, em 19 de maio de 1986, quando vários objetos voadores não identificados foram vistos sobre o território brasileiro e chegaram a ser perseguidos por caças. Também lembro-me do programa Comando da Madrugada, de Goulart de Andrade, sobre o famoso caso do ET de Varginha. Ainda que tudo isso seja motivo de escárnio para muitos, proponho algumas perguntas. Por que acreditar que estamos sozinhos em universo ainda impenetrável para nossa tecnologia? Por que duvidar da existência de civilizações muito mais inteligentes e avançadas do que a nossa? O que nos leva a crer que somos espertos o bastante para definir que a formação da vida envolve, por premissa, uma sopa orgânica? Por que não imaginar outras formas de vida cuja estrutura foge de nossa compreensão?
A descoberta feita por telescópios do Havaí e do Chile sobre existência, em grande quantidade, da molécula fosfina sobre nuvens de Vênus indicaria uma forma de vida extremamente rudimentar habitando nosso planeta vizinho. Mesmo que não se tratasse de seres inteligentes, os prováveis micróbios venusianos mudariam para sempre os paradigmas da ciência. Uma das respostas às perguntas formuladas no segundo parágrafo desse texto seria: “Não, não estamos sozinhos no universo”. Constatação que abriria um leque de inúmeras possibilidades de vida em nossa e em outras galáxias. A partir de agora, na presença das lembranças e do amor de meu avô, talvez eu contemple o céu com outros olhos. Com a crença de que, quem sabe, alguém ali em cima também procura por nós.
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