Vamos fazer um exercício de viagem no tempo, caro leitor? Por acaso você se lembra do que fazia naquela quarta-feira, 18 de setembro de 2002? Chance mínima, não é? O Brasil vivia o clima de uma campanha eleitoral acirrada. Lula e Serra tentavam garantir uma vaga no segundo turno da eleição presidencial, à frente de Anthony Garotinho e Ciro Gomes. No DF, Joaquim Roriz buscava a reeleição, mas via o crescimento de Geraldo Magela (PT) nas últimas pesquisas de intenção de voto. No mundo esportivo, sob a ressaca da conquista da Copa do Mundo do Japão e da Coreia, surgia uma outra geração de jovens muito talentosos, como Robinho e Diego.
Pelo mundo, ebulição. A notas e moedas do euro recém entravam em circulação. A Guerra do Afeganistão estava em andamento. Redes sociais? Eram nichos. O LinkedIn surgia. As mais famosas atualmente só foram criadas bem depois, como o Facebook, em 2004; Twitter, em 2006; e Instagram, 2010. Nas telecomunicações, um período de transição. O sistema era basicamente analógico, caminhando para o digital. O SMS, a forma mais popular de mensagem de texto, custava uma pequena fortuna. Vivíamos tempos diferentes? Sim, o período de 18 anos é muita coisa, pensando na escala individual. Seria semelhante a comparar 2002 com 1984. Quanta coisa mudou, não é mesmo?
Sob o olhar de 2020, vejo que evoluímos muito em relação àquela época. Com a democratização do acesso à internet, houve um avanço na inclusão digital, mesmo estando bem distantes de inserirmos toda população. De uma forma ou outra, grupos que ficavam à margem do debate ganharam voz e conseguiram um espaço na arena pública. Ajudaram a moldar uma nova sociedade, em que práticas racistas e homofóbicas passaram a ser expostas e repudiadas. Ao mesmo tempo, o radicalismo veio à reboque. O meio-termo está cada vez mais distante. O fenômeno da polarização mostra-se presente e dificulta muito o diálogo. E não falo apenas dos debates políticos. Os extremos são uma realidade na esfera esportiva, cultural, econômica. Basta querer enxergá-los.
Voltando ao passado, eu me lembro muito bem onde estava naquele 18 de setembro de 18 anos atrás. Em um hospital do Lago Sul. Nascia ali uma menina de pouco menos de 3kg, filha de dois jovens jornalistas que se conheceram e se apaixonaram na universidade cinco anos e meio antes. Desde então, dia após dia, vejo aquela garotinha se tornar cada vez mais independente e me ensinar a ver o mundo com outros olhos, principalmente por causa dos questionamentos e aflições. Feliz aniversário, Cecília. Bem-vinda ao mundo adulto, exatamente nesta fase de transformação que vivemos.
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