Opinião

Visão do Correio: Inteligência versus crime

Somente com a atuação conjunta dos órgãos de segurança pública por meio dos serviços de inteligência, o combate à criminalidade logrará êxito

Correio Braziliense
postado em 19/09/2020 08:48 / atualizado em 19/09/2020 08:53
 (crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press; )
(crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press; )

O genial Nelson Rodrigues dizia que toda a unanimidade é burra, mas, no caso do combate à criminalidade, sobretudo a organizada, 10 entre 10 estudiosos do tema concordam que só é possível enfrentar o crime com sucesso através do uso contínuo e sistemático da inteligência. Este é o caso recente das investigações de uma força-tarefa de Minas Gerais que trabalha para estrangular o sistema financeiro das facções criminosas que atuam em todo o território nacional e que dominam, desde o tráfico de drogas, até o contrabando de armas.

A ousadia dos bandidos não tem limites na tentativa de escapar das mãos da Justiça. Investigadores da Operação Caixa Forte, envolvendo a Polícia Civil e Polícia Federal mineiras, descobriram que os criminosos da facção Primeiro Comando da Capital, mais conhecida como PCC — a organização, que atua nas principais capitais do país, age desde 1993 —, utilizavam uma rede de idosos e crianças para fornecer recursos financeiros a integrantes da quadrilha que se encontram presos nas penitenciárias de segurança máxima mantidas pelo governo federal.

A cúpula do PCC, de dentro das prisões federais, montou um esquema para a abertura de contas bancárias em nome de crianças com idade entre 4 a 10 anos e de idosos acima de 60 anos. Com esse artifício, tentava esconder das autoridades as movimentações financeiras do grupo. Até agora, foram detectadas mais de 20 contas cujos titulares são pessoas com menos de 12 anos e com mais de 60. Os chefões da facção as usavam para lavagem de dinheiro, que era destinado a seus familiares e seus comparsas.

O coordenador da operação policial, Alexander Castro, delegado da PF e comandante da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado de Minas Gerais (Ficco), lembra que o modus operandi dos bandidos visa dificultar a identificação de quem estaria, concretamente, movimentando as contas bancárias. Mais de 400 pessoas foram investigadas em 20 unidades federativas. Elas, que não tinham qualquer ligação direta com o crime, recebiam uma espécie de mesada do comando do PCC para ser repassada a integrantes da quadrilha presos.

A atuação da força-tarefa de policiais civis e federais de Minas deve servir de exemplo para uma maior integração entre as forças policiais em todo o país. Certo é que, somente com a atuação conjunta dos órgãos de segurança pública por meio dos serviços de inteligência, o combate à criminalidade, que tomou de assalto cidades como o Rio de Janeiro, cartão postal do Brasil, logrará êxito.

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