Para pessoas de fé como eu, existe uma certeza: ninguém veio ao mundo a passeio. Mas há seres humanos que correm uma maratona linda e rompem a linha de chegada, empunhando um troféu diferente: o próprio legado. A juíza americana Ruth Bader Ginsburg, que morreu na última sexta-feira, aos 87 anos, teve uma trajetória digna de não cair no esquecimento. Viveu para reafirmar a luta pelas causas de gênero, para defender a igualdade entre homens e mulheres e, até morrer, lutou pela democracia. E fez isso porque era isso que dava sentido à sua vida. Ou seja, não foi sacrifício, foi missão, o que não quer dizer que seja mais fácil.
Devemos a ela não apenas o reconhecimento, que cabe aos grandes, mas o fim em si mesmo: o efeito real de sua luta. Dizer, elogiar, enxergar valor pode ser bem fácil, embora não seja qualidade de todos. Transformar a vida em ação, levantar a voz, enfrentar os pares machistas, mudar leis são outros quinhentos. Agir em prol do outro, da sociedade, e escolher a luta democrática é também renúncia e coragem.
Ruth inspirou o fime Suprema e teve a caminhada narrada no documentário A Juíza (RBG), que disputou o Oscar da categoria no mês passado. É a arte ajudando a história. De novo e sempre. Graças a isso, mais gente vai conhecer e se reconhecer no legado dela. Sim, é preciso virar exemplo. Quantas delas serão necessárias para enxergarmos e vencermos os mais estúpidos preconceitos com os quais lidamos diariamente?
Mulheres que desbravam caminhos, destravam processos, soltam a voz e ultrapassam trincheiras machistas para ocupar espaços de fala, de poder e de exemplo são as nossas esperanças diárias de um mundo melhor. E são tantas... Lenda de causas progressistas, Ruth foi ícone jurídico, pop e feminista e deixou seu lugar vago, uma lacuna para a disputa política e para (que pena!) uma indicação à la Trump. Mas, sabemos, que a causa dela nunca estará perdida; que outros olhares femininos e feministas se debrucem sobre o mundo. Machistas passarão, pessoas como Ruth são eternas.
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