A expressão ‘cego no meio do tiroteio’ traduz com extraordinária concretude a sensação de se sentir perdido, desnorteado, incapaz de encontrar o rumo. Sentimento similar experimentam os dependentes do INSS diante da guerra deflagrada em razão da reabertura das agências com perícia médica. De um lado, os profissionais da saúde. De outro, o governo. No meio, 1 milhão de brasileiros.
Os peritos dizem que faltam condições sanitárias para a volta ao trabalho presencial. Sem os cuidados necessários, eles se expõem a enfermidades, entre as quais a covid-19. A Secretaria de Previdência e Trabalho, do Ministério da Economia, afirma que cumpriu os protocolos, com foco na proteção dos servidores e dos segurados.
Determinou, então, a abertura de 600 postos, 111 dos quais com perícia. Na sexta, acrescentou mais 30. Também anunciou as datas de abertura para o público – outro fator de desencontros. Diz que combinou com associações e sindicatos, mas as entidades negam. Marcou para 14 de setembro, depois postergou para 17. O segurado, mesmo com agendamento prévio, ficou a ver navios. Voltou frustrado para casa.
O governo ameaçou descontar a remuneração dos que se negarem a comparecer às agências. E marcou o dia 21 para a normalização das atividades. Entidades representativas dos médicos reafirmaram a determinação de só retomarem o atendimento depois da checagem das agências pelos próprios técnicos — marcada para amanhã. Se tudo estiver de acordo com os padrões estabelecidos pelas autoridades sanitárias, os peritos retornam na terça, não na segunda como definido pelo governo.
É bom que corporação e Estado flexibilizem a intransigência e deem vez ao diálogo e ao bom senso. Seis meses foi tempo suficiente para adequar as instalações à nova realidade e prevenir contratempos. Protocolos devem ser seguidos com rigor. E o brasileiro, no caso o cego no meio do tiroteio, é a vítima da tragédia. Paradoxalmente, porém, paga a conta com moeda forte – a saúde e a sobrevivência financeira. Em bom português: arca com o ônus sem obter o bônus.
Disputas políticas não podem se sobrepor ao interesse público. O segurado é a urgência número um. Tem de receber os benefícios que dependem da perícia médica, como acidente de trabalho, auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. Vale lembrar a razão da existência do funcionário público. É servir ao público.
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