É de surpresa em surpresa que a diplomacia brasileira, até então considerada equilibrada pelos atores internacionais, vem sendo conduzida desde que o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, assumiu a pasta. Causou estranheza a recente iniciativa do chanceler em receber em Roraima, na fronteira com a Venezuela, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeu. O convite ao norte-americano vem sendo interpretado como ato de campanha eleitoral do presidente Donald Trump — ele busca os votos de venezuelanos e cubanos exilados na Flórida, estado decisivo para sua reeleição — e ingerência em assuntos internos do país vizinho a partir do território nacional.
A atitude de Araújo, conhecido por suas posições extremadas, provocou a reação do Senado, que, por meio da Comissão de Relações Exteriores, convidou o ministro a dar explicações. Isso depois de o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ter considerado a presença do chefe da diplomacia dos EUA uma “afronta”. O secretário foi ver de perto a Operação Acolhida, do Exército Brasileiro, que recebeu mais de 6 mil refugiados venezuelanos que cruzam a fronteira para fugir da ditadura de Nicolás Maduro.
Pompeu, ex-chefe da CIA, não poupou críticas a Maduro e à ditadura bolivariana, qualificando-o como narcotraficante, acusação feita em diversas organizações globais. Na avaliação de lideranças políticas brasileiras dos mais variados matizes ideológicos, não se pode permitir que um diplomata estrangeiro faça críticas, a partir do território nacional, a governos vizinhos. Assinalam que a Constituição Federal prescreve a independência nacional e a não intromissão em assuntos de outras nações.
Analistas também destacam que as declarações de Pompeu na fronteira quebrou uma tradição de décadas da diplomacia brasileira em defesa do multilateralismo e da resolução pacífica dos conflitos em todo o mundo. Sublinham que, na realidade, o secretário dos EUA veio ao Brasil para discutir os problemas internos da Venezuela a poucas semanas das eleições em seu país. E a questão a ser respondida é por que o Brasil permite que o seu território seja utilizado para tais fins.
Inquestionável que o regime de força imposto pelo autodenominado socialismo bolivariano suprimiu o Estado democrático de direito, com graves violações aos direitos humanos, e deixou a economia em frangalhos. A situação do país vizinho é tão grave que estima-se que até seis milhões de venezuelanos deixem o seu país, na maior crise humanitária que tem notícia na América Latina.
O certo é que a questão venezuelana deve ser resolvida por intermédio de negociações entre as forças políticas e sociais locais, nunca por meio de uma solução de força, como a preconizada por alguns agentes de fora. O diálogo tem de se fazer presente e prevalecer para a construção de pontes que levem à paz. E sem a intromissão indesejada de agentes estrangeiros.
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