Visto, lido e ouvido

Circe Cunha (interina)
postado em 23/09/2020 22:05

Que venham os touros

Ao mesmo tempo em que o Governo do Distrito Federal anuncia, de forma até tímida, a lista contendo as novas medidas de flexibilização restritivas, a capital assume a liderança como a de maior taxa de mortes por covid-19 do país. Trata-se de uma posição que, até o momento, não foi oficialmente assumida pelas autoridades de saúde do governo local, mas que caminha para essa possibilidade.

A questão, com esta triste estatística, é que o Distrito Federal, ao contrário do que acontece em muitos estados brasileiros, é a unidade da Federação que, historicamente, mais recebe pacientes encaminhados por outras regiões do Entorno e até de outros estados, o que altera, sensivelmente, esses dados. Para a Secretaria de Saúde, o cálculo de mortalidade leva em conta, tradicionalmente, só o número de residentes locais, dividido pela população total da região em análise, o que reduziria o número de óbitos de forma visível.

Para as autoridades, o que está havendo é uma discrepância entre o número absoluto de óbitos locais e as mortes de residentes. Citar números e outras estatísticas e percentuais, numa época em que esses valores sofrem variações diárias significativas, nada acrescentaria ao fato de que a maior taxa de óbitos por covid-19 na capital resultou num número de mortes que ainda oscila para cima e ceifou a vida de mais de 3.100 brasileiros com residência em nosso pequeno quadrilátero.

Tão grave quanto esses números funestos e jamais observados em tempo algum é o fato de que, mesmo sob a sombra e as ameaças constantes da morte, a maioria dos brasilienses é obrigada, pelas circunstâncias adversas, a enfrentar todos esses riscos onipresentes para não morrer com a pior de todas as pragas, que é a fome. Se, até pouco tempo, os riscos para os que saíam para trabalhar era a violência diária dos assaltos e do trânsito, hoje, somados a essas realidades de cidade grande, todos têm que enfrentar os riscos dessa virose pandêmica.

De fato, para os que aqui permanecem com saúde e disposição, há, ainda, outros desafios que necessitam ser enfrentados no dia a dia, como a permanência dos empregos e da renda. Não fossem esses cidadãos que enfrentam de frente essas batalhas cotidianas, muitos produtos nas prateleiras dos supermercados, simplesmente teriam desaparecido de vista. Tão preocupante quanto essa doença, que vamos conhecendo melhor com tempo, e cuja a vacina definitiva já desponta no horizonte, preocupa-nos a situação da economia, não só do país e do mundo, mas da própria capital.

Como não poderia ser diferente, dados recentes levantados pelo Boletim de Conjuntura Econômica do DF apontam que, na capital do país, embora registre índices negativos menores do que outras regiões, a covid-19 tem feito estragos também na economia local, principalmente no segundo trimestre deste ano.

O fechamento de comércios de variados ramos de atividade segue em alta, assim como o número de falências. A economia encolheu 4,2% no segundo trimestre. O chamado Índice de Desempenho Econômico (Idecon) também recuou no ano, atingindo o menor patamar desde 2015.

Um giro pela cidade mostra bem o grande número de estabelecimentos fechados, de salas e lojas vazias, com anúncios nas vidraças para aluguel ou venda, assim como uma grande quantidade de atividades que sumiram de vista. Mesmo assim, alguns economistas dizem que o DF, diante do que vem acontecendo no resto do Brasil, é a unidade da Federação que menos tem sofrido com a pandemia. Os números anunciam o que pode ser um dos maiores efeitos negativos dessa pandemia, com a retração histórica do Produto Interno Bruto, tombo que deve ser o maior desde o início do século passado.

Na verdade, não fosse a renda do funcionalismo público, a queda na renda e na economia do Distrito Federal teria acompanhado o que acontece em outras regiões. Há, ainda, muita repercussão desta pandemia que virá pela frente e que nem conhecemos ainda. Mas que venham os touros.


A frase que foi pronunciada

“É estranho, mas verdade; pois a verdade é sempre estranha;/ Mais estranho que a ficção: se pudesse ser contado,/ quanto os romances ganhariam com a troca!/ Quão diferente o mundo veria os homens!”

George Gordon Byron, poeta inglês, em Don Juan

 

Wally

» Praias lotadas, piscinão de Brasília cheio, festas nos fins de semana abarrotadas de gente até a madrugada. Mas o perigo está só onde o presidente Bolsonaro estiver. Muito estranho.


Eleitores

» Senador Randolfe Rodrigues apoiou a ideia do senador Reguffe que elaborou a PEC 8/2016. Esta Proposta de Emenda à Constituição sugere que a pauta do Senado e da Câmara sejam trancadas quando algum projeto de iniciativa popular não for analisado em até 45 dias. Em março de 2010, a PEC foi retirada da pauta e até hoje aguarda inclusão na Ordem do Dia.
Passeio

» Veja no Blog do Ari Cunha que beleza a capela São Francisco de Assis, no Gama. Já abriu as inscrições para casamentos em 2021. Esse é um dos lugares prediletos dos motociclistas para assistir à missa. Volta e meia, acontece a procissão sobre duas rodas até lá.


Escassez

» Em média, nove litros de leite materno são distribuídos para alguns hospitais do DF. Na pandemia, esse número diminuiu, preocupando, principalmente, Ana Cláudia Barros, chefe do Núcleo de Banco de Leite Humano do Hmib, onde a demanda é maior.

 

História de Brasília


Um dia não está, outro dia está no Rio, outro dia está ocupado, e assim por diante. Nem pró nem contra, falou o ministro mais elegante. (Publicado em 17/1/1962)

 

 

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