ENGAJAMENTO POLÍTICO

Drible, mas não se cale

''A falta de formação cultural e educacional é uma marca dos nossos atletas, mas isso não pode impedir que eles se calem. O drible é importante, levanta a torcida, mas o engajamento com causas sociais é o que muda a sociedade''

Roberto Fonseca
postado em 25/09/2020 04:00 / atualizado em 25/09/2020 09:19
 (crédito: AFP )
(crédito: AFP )

“Cale a boca e drible”. Em fevereiro de 2018, a comentarista política Laura Ingraham, do canal de notícias americano Fox News, tentou silenciar o ativismo do astro do basquete LeBron James. Milionário e com grande poder de influência social, o atleta criticava o teor das declarações do presidente Donald Trump. LeBron não se calou e, dois anos e meio depois, está à frente de um movimento de jogadores da NBA (basquete) e da NFL (futebol americano), com o apoio de muitos patrões, para estimular e facilitar a participação popular nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, daqui a 39 dias.

Como é de conhecimento geral, o voto nos EUA não é obrigatório, com um sistema de escolha bem diferente do brasileiro. Elegem-se delegados de um colégio eleitoral, que, por sua vez, define quem será o presidente. Cientes do papel social que têm, os atletas querem justamente ampliar a participação de negros e latinos neste processo, tradicionalmente os mais excluídos, e assim dar um caráter “mais democrático” à escolha do novo presidente. A distância, no entanto, vendo o engajamento dos jogadores norte-americanos, dá para se perceber o tanto que as nossas principais estrelas esportivas ficam à margem da política brasileira.

Amanhã é o último dia para registro das candidaturas das eleições municipais deste ano. A partir de domingo, a campanha estará permitida nas cidades brasileiras, inclusive com a veiculação de conteúdos pagos na internet. Aqui no DF, não participamos do processo, mas acompanhamos atentos o que ocorre nas principais capitais. Em muitos lugares, tradicionalmente, é uma prévia da disputa eleitoral presidencial daqui a dois anos. E mais uma vez presenciamos um total distanciamento dos principais nomes em atividade no esporte brasileiro da disputa nas urnas.

O que será, então, que leva os atletas brasileiros a não terem um engajamento político? Não precisa ser todos, muito pelo contrário, mas não é possível que, pelo menos, um, dois, cinco, 10 esportistas não se envolvam com o processo. Qual é o temor? Medo de um abalo na idolatria, de perder patrocinador ou da redução do número de seguidores nas redes sociais? Entendo que a entidades do futebol, principalmente a Fifa, proíbem mensagens políticas dos atletas durante as partidas, mas, fora das quatro linhas, não há barreiras e, mesmo assim, o silêncio predomina. Só depois que penduram as chuteiras que alguns tentam uma carreira política. É muito pouco.

A falta de formação cultural e educacional é uma marca dos nossos atletas, mas isso não pode impedir que eles se calem. O drible é importante, levanta a torcida, mas o engajamento com causas sociais é o que muda a sociedade.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação