Na maioria dos países, a pandemia aos poucos entra em fase mais contida, com alta mais lenta no número de casos e, em especial, no de mortes. Esse é, felizmente, o caso do Brasil, onde tanto um como outro têm crescido menos de 1% ao dia, fazendo três semanas que a média diária semanal de novas mortes está abaixo de 800, depois de três meses em que superou as mil mortes.
É provável que a evolução se deva ao maior conhecimento sobre a doença, à maior disponibilidade de leitos de UTI, ao uso de máscaras e a certo grau de imunidade coletiva. Também é de esperar que os mais vulneráveis estejam se protegendo melhor.
Por seu lado, não foi o maior distanciamento social que levou a isso: indicadores de mobilidade do Google e da Apple mostram que as pessoas estão se locomovendo de carro e a pé mais do que faziam no pré-pandemia. Apenas o transporte público continua cerca de 30% menos movimentado do que antes da crise sanitária. No pior momento, as três modalidades mostraram quedas na faixa de 80%.
Esse parece ser o novo não normal desta fase da pandemia, no sentido de que ela não irá embora até haver vacina para todos, um remédio eficaz ou a imunidade coletiva, todas alternativas que dificilmente estarão disponíveis nos próximos 12 meses. Como a economia se comportará nesse período e o que o governo pode fazer a respeito?
Indicadores mais recentes mostram que a economia mundial vem se recuperando mais fortemente do que se esperava. Faz duas semanas, a OCDE reviu as projeções, reduzindo a queda prevista do PIB mundial de -6,0%, projetada em junho, para -4,5% (https://bit.ly/3hOD5DF). Quase toda a melhora se deu, porém, nos EUA e na China.
Para a Europa as projeções também melhoraram um pouco, mas para vários emergentes elas pioraram: agora a OCDE prevê que o PIB da Índia caia 10,2% este ano, o mesmo que o México, esperando contração de 11,5% na África do Sul, 11,2% na Argentina e 7,5% na Rússia.
Comparada a esses tombos, a contração de 6,4% projetada para o Brasil parece menos terrível do que é. Ainda assim, é pessimista. A grande maioria dos analistas consultados pelo Banco Central espera queda do PIB entre 4,5% e 5,9%. Eu espero -5,5%, ou um pouco menos.
Como no primeiro semestre o PIB ficou 5,9% abaixo do observado um ano antes, seria preciso alta no terceiro trimestre de 6% frente ao segundo e de 3% no quarto frente ao terceiro. Isso ainda deixaria o PIB do último trimestre quase 4% abaixo do observado 12 meses antes.
A recuperação não será uniforme entre setores. As vendas do comércio varejista já se recuperaram integralmente, ficando em julho acima do patamar de um ano antes. A produção da indústria de transformação também se recuperou relativamente bem, com queda de apenas 3,6% frente a julho de 2019. Nos dois casos, alimentos, artigos de limpeza e eletrodomésticos vão muito bem, enquanto automóveis, livros, roupas e calçados estão longe de se recuperarem.
A construção também se recupera, a julgar pelas vendas de material de construção. Os setores agropecuário e de extrativa mineral, pouco abalados pela pandemia e favorecidos por bons preços externos e a desvalorização do real, também vão bem.
Quem vai pior são os serviços, registrando nível de atividade em julho 11,9% abaixo do observado um ano antes. A contração é especialmente forte nos serviços prestados às famílias, com queda de 54,9% na mesma comparação. Isso afeta muito negativamente o mercado de trabalho, já que o setor de serviços é o que ocupa mais gente.
O novo padrão deve continuar nos próximos 12 meses, com pequenas variações. A recuperação da indústria e da construção deve seguir em frente, esta com mais foco no segmento formal, em parte alimentada pelo crédito. A venda de alimentos, produtos de limpeza, farmácia e eletrodomésticos tende a arrefecer um pouco, com o fim do auxílio emergencial. A situação no mercado de trabalho continuará ruim e, junto com a preocupação sanitária, manterá o consumidor desconfiado.
A melhor política de estímulo à atividade e ao emprego é desenvolver protocolos que deem confiança ao consumidor e aumentem a atividade de serviços às famílias, incluindo educação e saúde. Também será preciso ajudar a migração de trabalhadores para fora de setores sem perspectiva de recuperação, mesmo com a vacina. E é preciso reduzir a incerteza para estimular o investimento e o próprio consumo. Uma agenda contida, mas fundamental.
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