Agricultura 4.0 – tecnologia, inclusão e sustentabilidade

té os anos 80, o Brasil era promessa de celeiro do mundo. Hoje, produz alimentos que, além de atender os brasileiros, chegam à mesa de quase 1,5 bilhão de pessoas no planeta.

A agropecuária brasileira venceu muitos obstáculos para se tornar o segmento mais tecnificado, produtivo e eficiente do país nas últimas quatro décadas, graças ao musculoso programa de inovação. Até os anos 80, o Brasil era promessa de celeiro do mundo. Hoje, produz alimentos que, além de atender os brasileiros, chegam à mesa de quase 1,5 bilhão de pessoas no planeta.

Transcendendo o estereótipo de Jeca Tatu, que predominava e afastava jovens do campo, o setor conseguiu se apresentar ao país como a solução das crises econômicas, inclusive, como sabe a autoridade monetária, diminuindo o impacto do setor de alimentos e bebidas nos índices inflacionários.

O agronegócio movimenta indústria de máquinas e equipamentos, de processamento, logística e distribuição. Mantém 15 milhões de pessoas no campo, gerando empregos e renda, contribuindo para o superavit na balança comercial. A tecnologia, no caso, foi o fator preponderante. Por essa razão, ao comer uma batata, um morango ou um bife, você poderá ter produtos com mais tecnologia embarcada do que muitos eletroeletrônicos do seu cotidiano.

Nova era bate à porta. A agricultura 4.0, parte da quarta revolução industrial, produz nova modelagem no setor agropecuário e vai alterar profundamente as relações, o trabalho e a vida no campo. Com velocidade exponencialmente maior que a revolução verde nos anos 1970, terá amplitude e acesso ao conhecimento sem precedentes.

O século 21 e o terceiro milênio trouxeram com eles nova postura de consumidores e investidores. Todos querem saber não apenas o que comem, mas de onde vêm e como são produzidos os alimentos. Com tantos aspectos positivos, qual o desafio atual? Os dados do Censo Agropecuário 2017 refletem uma realidade no campo que precisa ser superada para, de fato, termos desenvolvimento rural e sustentabilidade nos pilares clássicos: econômico, ambiental e social. A sustentabilidade plena colocará a agropecuária em patamar ainda mais elevado diante dos brasileiros e do mundo.

Economicamente, a agropecuária, produtora de commodities para exportação, e aquela que responde pelo abastecimento interno têm tido bons momentos graças a um conjunto de fatores, em especial a inovação tecnológica. Quem acessou as tecnologias teve ganhos importantes em produtividade e produção.

Ambientalmente, os produtores, pressionados pelo mercado, estão implementando sistemas de produção adequados aos biomas nacionais e cumprindo a avançada legislação ambiental brasileira, que é o Código Florestal. Fica cada vez mais evidente que é possível preservar e produzir.

A sustentabilidade social é o maior desafio para o Estado brasileiro. Ela depende da tecnologia, que poderá incluir ou excluir. Essa é a próxima questão a ser superada, que deve ser enfrentada em conjunto pelos três entes que formam a República. Os números do censo demonstram que 21% dos produtores brasileiros não sabem ler nem escrever; 42% dos estabelecimentos têm o valor da produção, no período pesquisado, de até R$ 5 mil, deixando esse universo de produtores na pobreza e abaixo dessa linha. São 2.029.613 estabelecimentos nessa condição.

No passado, a tecnologia foi o fator preponderante para inclusão e exclusão de produtores rurais. No século 21, a conectividade e o uso de ferramentas digitais vão definir um rural inclusivo ou de exclusão. As máquinas inteligentes, os aplicativos de gestão, a inteligência artificial, a internet das coisas serão fundamentais para o contínuo aumento da produtividade e melhoria na eficiência dos fatores de produção e aumento da renda. Um grande programa de inclusão digital no campo se faz necessário para não deixar ninguém para trás.

A experiência é suficiente para estruturar o pilar mais sensível, e pouco mencionado, que é a sustentabilidade social. O sucesso da agropecuária resulta de pesquisa, que produziu o conhecimento, que recebeu o tratamento didático-pedagógico e foi levado pelas entidades de assistência técnica e extensão rural até as mais remotas regiões. Os produtores que tiveram acesso a esse serviço estão nos diversos vagões da locomotiva que é o agronegócio.

O serviço de extensão rural custa para os governos estaduais aproximados R$ 3 bilhões anuais. O fundo de telecomunicações possui mais de R$ 20 bilhões a ser utilizado. O campo, setor estratégico da economia nacional, precisa ser priorizado. O Brasil poderá incluir mais 2 milhões de produtores em um processo produtivo moderno com inclusão digital.

O resultado? Mais sustentabilidade, mais exportações, mais crescimento. Com articulação institucional e sem recursos volumosos, o agronegócio cravará mais um ciclo na história brasileira: a agricultura 4.0 — econômica, social e ambientalmente sustentável.

 

*Ex-Secretário de Agricultura e Desenvolvimento Rural do DF, ex-presidente da Asbraer, ex-presidente da Emater-DF, ex-secretário de Agricultura Familiar, ex-diretor técnico da Emater-MG