Hábito da leitura

Aprendi a ler e a escrever em casa, com o meu pai, numa das greves da rede pública do Distrito Federal. Lembro que achei difícil. Mas não demorei a me interessar pelos livros. Neta de um escritor e afilhada de um leitor ávido, gostar de ler parecia um caminho natural. E foi. Mas a sede de leitura surgiu assim que terminei o primeiro exemplar de Harry Potter. A partir daí, já estava encantada pelo mergulho na imaginação que um livro proporciona e pela ansiedade de chegar à última página.

Por ter essa paixão pela leitura, seja de livro, seja de jornais e revistas, fico sempre surpresa quando alguém me diz não gostar de ler. Na última sexta-feira, fiquei triste ao perceber que o hábito de leitura está caindo no país. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, mostrou que, de 2015 a 2018, houve uma queda de mais de quatro milhões de leitores, em sua maioria, das classes A e B.

A pesquisa sai em meio à uma polêmica envolvendo a taxação dos livros, prevista em 12%, na proposta de reforma tributária apresentada pelo ministro Paulo Guedes ao Congresso Nacional — atualmente, os livros são isentos de impostos. Isso acarretaria no aumento do preço das obras, o que dificultaria o acesso aos mais pobres e também a margem de lucro das livrarias, que, já vivem um momento de crise. A tributação incide em todo tipo de livro, da Bíblia aos didáticos.

Por mais que o estudo mostre essa redução na leitura, também expõe que, diferentemente do que foi pensado e dito por Guedes em relação ao consumo de livros, o hábito de leitura das classes C, D e E, por mais que ainda seja menor do que nas classes A e B, foi o menos afetado. Ou seja, são as pessoas de mais baixa renda que se mantêm firmes na leitura. E são exatamente esses leitores que, caso a reforma seja aprovada com essa parte referente aos livros, os mais impactados e os que poderão, na próxima pesquisa, estar na estatística de queda.

Um país que não lê é um país que renega sua história. Os livros nos dão saber e, mais que isso, nos dão esperança de imaginar dias e narrativas melhores do que as que vivemos. Numa pandemia, então, quem não quer se perder nas páginas de um bom livro?

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